Este é o local onde as palavras encantam.
Os escritores também tem sentimentos. Se sentiste, diz. Assim estaremos todos no mesmo nível de partilha.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Aquilo que eu perdi para o monstro em mim

          Tristeza… Um grande sentimento que nos consome pouco a pouco. Eu sei o que é. Eu estive, estou e continuarei a estar triste. Estou triste por causa de todos os assuntos que não resolvemos. Estou triste por não poder voltar a falar contigo. Sei que tive culpa. Sei que tentaste naquele dia quente de verão. Sei que fomos criaturas néscias que não pensaram no que estavam a dizer. Sei que tive mais culpa que tu. Sei e peço desculpa. Desculpa por ter sido a primeira a destruir tudo. Desculpa por não ter ouvido. Desculpa por ter sido a ignorante e mais infantil pessoa que alguma vez conheceste.
          Se o universo e Deus me autorizassem voltaria atrás no tempo e tentava não cometer os mesmos erros. Tentava dar-te a mão em vez de te empurrar. Tentava lutar contra a raiva, contra este outro monstro que anda disfarçado. Se não conseguisse tentava ao menos ouvir-te. Serei sincera. Não ouvi porque tinha medo. Medo de me arrepender daquilo que pudesse dizer no calor da batalha. Medo que o monstro voltasse e que mais uma vez voltasse a massacrar as tuas tentativas de socorrer aquilo que já estava ferido. Foi demasiado fraca. Ele estava disfarçado novamente e eu deixei-me ser apanhada, acabando por me arrepender mais uma vez da reação que tive.
          Durante vários dias pensei, chorei e voltei a pensar. Torturei-me mentalmente por aquilo que fiz, não fiz, disse e não disse. Torturei-me ao ponto de não conseguir dormir descansada e de amaldiçoar aquilo que sou. Não adiantou de muito. Não posso amaldiçoar uma pessoa que já tem uma maldição. Mesmo assim tentei. Tentei lutar e ponderei novamente em novas formas de te abordar. Nenhuma me pareceu a mais indicada. Quando finalmente arranjei uma que pensava eu que era uma boa ideia, cai novamente. Não previ aquele resultado. Mais tarde é que me apercebi que mais uma vez aquela maquiavélica aberração tinha-se penetrado na minha mente. Não é desculpa. Devia ter-me apercebido de tudo. Agora não há muito a fazer.
          Neste momento acho que não quero o teu perdão. Quero apenas que me oiças. Apesar de não ter o direito de te pedir isso, é aquilo que mais desejo. Gostava de poder voltar do zero. Começar tudo de novo. Infelizmente isso é impossível. Somos crescidos. Devíamos resolver os nossos problemas de forma civilizada, ainda assim eu quebrei aquilo em que acredito. Deixei-me levar e agora pouco posso fazer. Pensei que talvez se eu me explicasse tu visses nos meus olhos e sentisses nas minhas palavras que aquilo que digo é a pura verdade. Que me arrependo todos os dias do que aconteceu. Que não existe um único dia em que eu não pensei o quanto gostava de voltar atrás no tempo.
          Por agora ficarei à espera. Talvez um dia as minhas palavras possam ser ouvidas por ti. Talvez um dia eu me possa perdoar pelo que aconteceu. E então depois tu também me perdoes e que não haja mais tortura e mais sofrimento para nenhum de nós. Mas até esse dia vir, eu ficarei aqui. Presa na minha prisão mental, arrependendo-me por tudo e desejando não ter este monstro como parte de mim. Por isso até breve caro amigo. Certamente nos iremos ver um dia quando todo este nevoeiro levantar e nos estejamos prontos a deixar este fardo ficar na caixa, bem longe daqui.

sábado, 3 de novembro de 2012

O Rei, a Guerra e o Reino de gelo

   O que será que se esconde nos corações fracos dos homens? E por detrás de todas aquelas muralhas? Será o rei? Será que ele não passa de mais um corpo frio sentado no trono de madeira? Ele só poderá ter um coração de gelo se não, como poderia ele deixar as crianças chorarem pelos pais? Como poderá esse ser o verdadeiro rei deste reino? Como pode ele matar em nome da felicidade de outros? Porque é que ele proclama que Deus fez dele o senhor intocável e lhe concedeu todos os bens materiais quando a única coisa que Deus lhe deu foi a capacidade de viver? Não terá aquele que se intitula Rei a capacidade de ver o mal que acorre no reino? Talvez Deus o tenha feito mesmo intocável, imune a qualquer bondade, alheio a tudo a não ser a sua própria barriga.
    Ele não sabe, ninguém sabe que a rapariga que viu o pai e o irmão ir para a guerra do rei esperava todas as noites, olhos postos no horizonte e mãos agarradas no fio com uma pequena águia, que o seu irmão talhou especialmente para ela. Ela espera, espera e espera até adormecer. Ninguém sabe que a esposa todos os dias vai à falésia e espera ver o barco que vai trazer o seu marido vivo e saudável de volta. Ninguém sabe a dor que as mães, esposas, noivas, irmãs e primas sentem ao ver a esperança partir por não receberem nenhumas noticias daqueles que lhes são especiais.
    Um dia, mais um dia de muitos que passaram, um barco acabava de chegar. Negro dentro e fora. Da guerra vinha noticias. Pais, irmãos, avôs, maridos, noivos, muitos mortos. Os restantes estavam feridos e faltavam poucos dias para chegar. O rei subia calmamente, para a varanda central do palácio, e disse para todos os ouvintes as noticias. Não falou nos nomes dos soldados, dos generais que morreram, esses foram referidos, mas não os nomes dos pobres soldados que tinham sido arrancados do calor das suas casas para ir para as chamas da batalha.
    Mães gritaram, esposas agarraram as crianças e choraram. E as damas, senhoras de nome e nariz, pegaram num lencinho perfumado e limparam três lágrimas secas do canto dos olhos vermelhos. Mas o povo feminino mantinha-se destroçado. Mais ficaram quando os restantes barcos chegaram. Aqueles que viveram puderam reunir-se às suas famílias. A menina que dantes esperava agora tinha o irmão junto dela, o pai tinha voltado mas bastante ferido. Viveu para despedir-se da filha mas em dois dias partiu com a Senhora da Morte. O marido da Senhora da falésia não voltou da batalha no mar e ela sem filhos ou outros familiares deixou o Senhor do Mar leva-la quando caiu na água.
    As coisas pareceram estar mais calmas, apesar de todas as tragédias. O rei continua o mesmo coração de gelo. Algumas famílias continuam de luto outras tentam festejar. Mas se eles pensam que a vida de guerra acabou estão enganados. Com um monstro como rei será difícil parar o sofrimento. A vida neste Reino de gelo continua, implacável. Continuará até o rei derreter e o trono arder. Por enquanto as muralhas do Reino continuarão a ser frias e inquebráveis.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A fada madrinha, o jardim e a magia verdadeira.

   Numa casa à beira mar uma jovem vive cada dia com o máximo de felicidade possível. Às vezes ia sentar-se para um banco no meio do jardim. As flores rodeavam-na, os aromas enchiam o ar e as cores vibravam, refletindo os raios solares. Muitas pessoas passavam pela cada branca e não percebiam que para lá das grandes árvores e da pedra fria, um mundo quente e acolhedor existia.
   A jovem cuidava das flores e as flores davam-lhe magia. Se a magia é a força que nos faz viver, então é provável que fosse essa a magia que elas lhe davam. Se a magia é a energia que nos faz criar algo que é incrivelmente belo e extraodinário, então talvez fosse essa a magia.
   Semente a semente elas iam multiplicando e a magia com elas ia crescendo e cobrindo aquela terra. Primeiro o jardim, depois toda a casa e agora o mundo. Isso aconteceu porque a magia é contagiosa. A doce mas forte jovem mostrou e ofereceu aos outros aquela magia e esses passaram-na a outros.
   No final, foi ela a nossa fada madrinha. Mostrou-nos o que era a verdadeira magia e deu-nos um pouco das suas sementes para que também nós, um dia, podessemos dar a outros essa luz. Ela pode não ter nenhuma varinha magica mas tinha um jardim colorido, cheio de flores, uma casa branca de pedra fria que depressa ficou quente, tal como o coração de muitas pessoas que entraram em contacto com aquela linda magia.
   O jardim continua lá, a jovem continua a partilhar e o mundo ficou, para sempre, modificado. E para nós ficou uma lição: partilhar sempre a magia que ela nos deu. Caso algum dia a nossa magia comece a desaparecer porque algo na nossa vida perdeu a cor, ela estará lá para nos ajudar. Logo se aquele jardim morresse nós deviamos ajudar. É assim que a magia vive. Ajudar os outros e sorrir.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sempre fui e sempre serei.


Sempre fui e sempre serei. Quando o sol se apaga, quando as nuvens começam a descender em espiral, mesmo quando Deus parece querer ver a tempestade destruir tudo o que com trabalho e paciência foi construído, é em todas as alturas que normalmente apenas a Mãe Natureza e Deus são os mediadores que eu sempre fui e sempre serei a culpada. E uma árvore cai, eu sou a culpada, mesmo que essa árvore estivesse do outro lado do oceano. A minha simples existência parece ser a causa de desastre.

Fui a fonte de desastres invisíveis provocados por parentes inúteis que nem nesta terra cultivam os alimentos. Fui o alvo das setas que deviam ter sido armadas contra aqueles que foram os culpados inocentes, mas aos olhos da justiça na casa apenas havia e haverá uma única culpada: Essa sou eu e mais ninguém. Lágrimas derramadas, falsas e convenientes, para limpar o maléfico rasto de maldades. Quando as minhas lágrimas caem não estão sozinhas. Sangue veio, sangue virá.

Oiço as lamúrias daqueles que por não terem aquilo que querem ralham. Eu que apenas quero um pouco de compreensão tenho de virar a cara para a parede e engolir todas as viscosas palavras envenenadas, porque se dirigir uma palavra contra os Santos condenam-me de blasfémia. Tudo o que sai da minha boca é mentira ou exagero, o contrário já não se aplica. Eles são Santos. Podem só vir cá uma vez por anos, podem apenas se importar com os Seres da Justiça uma vez no ano mas não interessa. Para todos os efeitos são Santos.

Um Ser da Justiça apercebeu-se finalmente do mal mesmo assim sente-se impotente. O outro não quer saber. Eu que cultivo a terra todo o ano, que me preocupo com todas as necessidades da Justiça e das Testemunhas vejo-me sujeita a parar de ser o que sou e a deixar que eles me controlem como se eu não passasse de uma marioneta, velha e gasta. Mesmo que eu queira voar, mesmo que eu queira mostrar a todo o que eles são, não vale a pena. A batalha está ganha. Mas a Guerra ainda não acabou.

Morrerei mil vezes antes de os deixar ganhar a guerra. Retaliar-me-ei e não desistirei. Mesmo que eu morra, mesmo que a guerra seja perdida, eles não terão descanso quando eles deixarem de pisar o mundo, porque no final Deus sabe o que se passa e a Mãe Natureza dar-lhe-á um relatório detalhado sobre todas as coisas visíveis e invisíveis que eles fizeram. E eu talvez seja finalmente ouvida, aquela que era muda finalmente levantará a sua voz. Sempre fui e sempre serei a Guerreira que viverá mil vidas.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Voar como a pomba branca


Espalhados pelo mundo, tristes e inconsoláveis,
Na negra realidade que nos abraça diariamente,
Andamos na rua, sozinhos, na mão direita
O relógio, na mão esquerda o quadro solenemente
Pintado com as cores, que se tornavam intocáveis,
E que mostravam a vida terrivelmente imperfeita.


Corríamos, saiamos de casa, mas continuávamos
Fechados na gaiola invisível misteriosa e inquebrável,
Ouvindo a canção suaves dos anjos, desejando
Que um dia fossemos salvos… Deixando a contestável
Vida de inconscientes. E enquanto esperávamos
Uma pomba branca voava com a força admirável.


Cada vez mais alto, e nós desejávamos voar,
Acreditar, ter coragem, ter fé e não fugir
Cobardemente dos obstáculos que a vida
Nos presenteia. Correr livremente, sorrir,
Chorar, cantar, abraçar a pomba e sonhar.
No fim, deixar de lado a constante dúvida.


Agarrar a mão dos outros e caminhar, saindo
Da jaula fria. Abrir os olhos e olhando para cima 
Gritar até os pulmões perderem o ar e então
Aquilo que sonhávamos é nosso. Uma lágrima
Derramada não é nada quando finalmente caindo
Em nós, percebemos o calor no nosso coração.


Correndo, sorrindo, voando livremente pelo mundo
Como a pomba branca ao longo do arco-íris brilhante.
Teremos tempo para aprender e deixar as velas arder,
Para que estas nos iluminem o caminho a jusante.
No futuro (seja ele qual for), segundo após segundo,
Viveremos para ver um novo e belo amanhecer.

sábado, 5 de maio de 2012

Felicidade primaveril e horrores de inverno.

Vieste ter comigo, disseste que precisavas de ajuda, coisas normais. Sorri e não mostrei a dor que sentia das inúmeras facadas que estava a receber. Nunca choraste no meu ombro apesar de por milhares de vezes eu ter dado com aquela aura de tristeza que te rodeava como se os anjos tivessem descido apenas para testar a tua força de vontade. Vi-te a afastar, a correr para bem longe de mim, talvez tenhas visto as mil carcaças que tenho no meu passado e não quiseste arriscar a ser mais uma naquela imitação de Vale dos Reis.

Apenas posso olhar para ti, distante como se vivesse noutra realidade. As nossas mãos nunca se tocaram e os teus lábios nunca foram meus, talvez não estejam destinados a ser. Antes quando me perguntavam se tinha sonhos eu dizia que tinha sonhos de dia e noite, que queria viver mais um dia e conquistar todos os meus objetivos se assim tivesse destinado mas que nunca ia desistir. Agora tenho mais um: ver-te feliz. Mesmo que não possa ser eu a fazer-te feliz, desejo que alguém te faz sentir bem e te ofereça todo o amor e carinho que merece. No final vou acabar por sair magoada mas eu sairia de qualquer das formas. Será mais um tesouro perdido na pirâmide escondida do faraó, rodeado de mil e uma múmias e protegido por armadilhas mortais que acumularam esqueletos.

Posso não ser a mais bela da zona nem a mais inteligente e é claro que dei um enorme banquete de insetos mas eu sou a contadora de histórias e espero que isso sirva para alguma coisa no final da minha vida quando eu própria for consumida pelo fogo que me deu vida. A minha mente pode ser mórbida e macabra, posso viver num mundo da fantasia sempre que escrevo e por isso não tenho direito de te pedir para me abraçares. Apesar de sempre que o meu peito doí e as lágrimas tentam rasgar a mascara de pele que cobre o meu rosto, a única pessoa que me vem à mente seres tu, eu vou deixar-te ganhar asas e voar livremente.

Primeiro e último. Talvez o seja. Ficarei marcada para sempre com o teu nome no meu coração petrificado. Posso ser jovem, posso não ter a sabedoria dos mais velhos, posso estar sempre a errar, posso mentir, posso deixar de lutar mas nunca serei a mesma porque decidir que te iria amar. Posso apenas ser quem te ajuda com coisa triviais e saber isso magoa. Morro e renasço vezes sem conta. Nos meus sonhos massacro milhares de pessoas e tu assustado e paralisado com a minha imagem ensanguentada, choras. Não quero que chores. Não quero que penses que sou um monstro. Não irei destruir todos só porque não podes ser o meu parceiro. Prefiro sofrer.

Se os demónios e os anjos se unirem para te levar então de bom agrado me darei para que possas viver nos braços de quem queres. Se eles me amaldiçoarem e obrigarem a viver sem ti então talvez noutra vida fiques nos meus braços. Ficarei à espera desse dia, mas viverei para tentar ultrapassar a cruel injustiça de não te possuir. Como uma tela, pintada calma e carinhosamente, assim também ficaram gravadas as memórias, imortais e a preto e branco. Se tenho de ir para o túmulo então irei com as memórias de um amor persistente e doce. Saber que os sentimentos não são mútuos não me faz parar, é como se eu tivesse sido intoxicada pelo desejo e pela dor que sinto sempre que vais na direção oposta. Sei que sou doida, devia deixar de te amar, devia arrancar este pedaço do meu coração e dá-lo aos demónios mas eles gostam de me ver a sofrer, é mais gratificante do que receber apenas um pedaço de coração.

Salvação. Não tenho salvação. Morrerei e pronto. Talvez te devesse dar o meu coração, arranca-lo do peito e mostrar a todos como ele bate. Como ele bate aceleradamente sempre que está perto. Dizer-te que não quero desistir mas se não o fizer temo que os anjos e demónios se fartem de mim e se virem contra ti. Eles não me farão mal mas receio que não tenhas a mesma sorte. Quero dizer-te que sonho contigo todas as noites e que não desejo que te afastes. Mas é possivelmente demasiado tarde para isso. Os nossos lábios nunca se tocarão e os teus braços nunca serão o meu conforto. Estou sozinha com a solidão e os fantasmas do passado. Tenho a certeza que antes tive este sentimento e no final os demónios resolveram cobrar a divida e retiraram brutamente o meu coração. Cortaram-me ao meio e disseram que se alguma vez eu quisesse voltar a sentir o mesmo teria de lhes deixar observar a minha destruição, e eu deixei.

Meu amor, nunca direi o teu nome em voz alta. Continuarem aqui a sofrer em silêncio como uma estátua. Colocarei a mascara e dizer que sim. Não te abandonarei e tentarei seguir em frente levando comigo todos os demónios e anjos que ameaçam cortar a tua cabeça e oferecer-ma num espeto, sem olhos pois esses são a janela para a alma e com a boca cosida para que nunca fales. Para teu bem vou recuar três passos por cada passo que der na tua direção. Vou ajudar-te quando puder e tentarei não apoiar-me em ti. Deixarei para a noite a dor, porque é preferível chorar quando não estás comigo, não correrei o risco de te levar para o túmulo mais cedo do que é previsto. E se um dia eu for primeiro tentarei esperar por ti e tomarei conta da tua vida. Não deixarei que caias na tentação ou que te vendas aos demónios.
Adeus meu amor. A minha alma não será separada e depois do corpo padecer ela continuará a lutar contra todo os assassinos que querem a tua pele. Se fores tu primeiro eu procurar-te-ei na próxima realidade. Não sei se és o único mas por agora és e isso é que importa. Não posso deixar os demónios andarem por ai livremente, pois eles podem torturar e matar outras pessoas e já chega de corpos na minha vida, por isso tenho-os perto de mim e espero que compreendas quando um dia eu deixar de falar. Não é por ter desistido, não é por já não quere ser tua amiga, apenas não podia viver sabendo que no final eu fui a causa da tua infelicidade. A tua infelicidade passa a ser a minha infelicidade. Já o contrário não se aplica e isso deixa-me um pouco mais descansada. Apenas ouvir a tua doce voz chega por agora. Apenas dizeres “Olá” chega para eu saber que não sou invisível. E se queres a minha ajuda e se pedes por ela, eu estarei lá para assistir como uma escrava, só que não por imposição, uma escrava do meu próprio sentimento.
Não és o cavaleiro no cavalo branco, nem a estrela mais brilhante do céu. És apenas um homem que aos meus olhos merece a felicidade primaveril todos os dias da sua longa vida. Não vieste com o amanhecer nem com o anoitecer. Não te prometo a lua nem fortuna. Não te posso dar imortalidade corporal mas posso dizer que a terás. Serás imortal no coração das pessoas, principalmente no meu. Não sou uma deusa nem um anjo ou demónio. Sinto os horrores de inverno todos os dias da minha vida. Vejo sonhos a morrerem e vontades a fugirem. Não quero que seja mais um sonho que depressa acabou e me deu um empurrão para a realidade arrepiante manchada de vermelho e com uma aura negra. Também eu quero uma felicidade primaveril, tal como aquela que te desejo. Adeus meu amor. Desejar-me-ás essa felicidade? Ficarei à espera, sentada na areia da praia a olhar o sol adormecer no mar e eu vou adormecer com o teu nome invisível nos meus lábios e um aperto no coração.

domingo, 22 de abril de 2012

O nosso verdadeiro nome


No meio da floresta, numa clareira serena e quente, uma flor com suaves tons azuis esverdeados nasce e uma calma melodia enche o ar encantando todos os seres daquela infinita floresta. Os pássaros deixaram de cantar para se dirigirem em direção à clareira para ouvirem melhor a doce melodia. Os lobos deixaram de uivar para a prateada luz vinda da lua e seguiram rumo à flor para verem a brilhante luz vinda da planta. Uma jovem que por ali passava sentiu a magia que voava pelo ar numa dança com o vento quente de verão. Passo a passo ela dirigiu-se à fonte de toda aquela maravilhosa e luminosa magia. Seguindo os animais por entre as árvores, bailando como as Ninfas que tinha habitado aquela floresta.

Ao chegar à clareira a flor já tinha desabrochado. No seu interior, um pequeno ser dormia alheio a toda a atenção que estava a receber. Parecia um daqueles seres que habitam as histórias que as mães contam os filhos antes de estes adormecerem. Tão angelical, se não fosse pelas suas asas de borboleta poderia fazer-se passar por anjo, talvez um anjo da guarda. A jovem com os seus olhos doces poisados na flor e no seu hóspede revia todos os contos encantados que a sua mãe costumava contar-lhe. Ela começava a pensar que talvez este momento não passasse de mais um dos seus inúmeros sonhos e que a qualquer momento acordaria.

Como que acordado pelas memórias da jovem a criança-borboleta abriu os olhos. A melodia parou de tocar, a magia deixou de bailar e apenas pairou por cima da flor, os animais baixaram a cabeça mostram o seu respeito e a rapariga sem saber como deu por si a caminhar em direção ao centro da clareira. Ajoelhou-se e os seus olhos fixaram a criança que estava sentada na flor.

- Qual é o meu nome? - A voz da pequena criança de asas azuis era como um carrilhão de sinos. - Tu sabes qual é o meu nome, podes dizer-me?

A rapariga não sabia o que dizer, não fazia ideia qual era o nome daquela criatura, nem sabia o que ela era.

- Se procurares no teu interior vais descobrir. Fecha os olhos e pensa.

Com se possuíssem vontade própria os seus olhos fecharam-se e ela foi sugada para o seu próprio interior. Naquele mundo ela voava pelo céu azul e ao longo do infinito rio, mas quando ela pensava que tinha visto tudo sentiu-se tentada a olhar para o seu reflexo na água. Finalmente compreendeu porque conseguia voar. Ela era uma fada! Não, a criança-borboleta era afinal uma fada. A sua íntima, parte de si, o seu anjo da guarda, a sua consciência… A sua eterna companheira! Nesse momento ela conseguia ver a verdade com os seus olhos e o nome da sua amiga era tão claro como água.

- Ruby. É esse o teu nome. A verdade mostrou-se e eu agora se o que és, o que sou e a partir de agora não voltarei a caminhar para um futuro que não é meu. Sou eu que caminho e sou eu que me sacrifico por todas as escolhas que faço de livre consciência. E não te vou deixar desaparecer. Tu nunca desististe de mim. Como tal, eu não planeio desistir de ti.

Tão rápido como tinha entrado ela saiu do centro do seu interior. Com lágrimas nos olhos, ela viu a fada a toca-lhe ao de leve na cara e com as suas pequenas mãos limpou as lágrimas salgadas que rolavam pela face da jovem. Cores espalharam-se por todo o lado. Os animais começaram a cantar, cada um à sua maneira, ao som da melodia que tinha novamente começado. A jovem e a sua companheira continuavam ali, paradas no meio da clareira, alheias a tudo, olhando nos olhos uma da outra, decifrando as suas almas, tudo o que eram, foram e serão. A magia começava a solidificar-se e a cair como se fosse neve colorida, avisando que iria cobrir toda a floresta com os seus flocos arco-íris. Infelizmente a jovem não chegou a ver tal maravilha, quando fechou os olhos para apenas sentir toda aquela felicidade e paz que a abraçava foi puxada para outro universo.

Quando voltou a abrir os olhos estava deitada na sua cama. Tinha voltado a casa e tudo aquilo não passava de um sonho. Desilusão! Eterna tristeza e solidão… Que sorte a dela! Tinha mais uma vez perdido tudo. Os carros passavam frenéticos na estrada de alcatrão, as pessoas tagarelavam sobre tudo e ainda era de manhã. Na mente daquela jovem apenas habitava uma coisa: Liberdade. A sensação que ela tinha experimentado quando voou. Sentiu-se livre, mágica, como nunca tinha sentido. Mas aquilo não tinha passado de um sonho. Ou terá sido uma visão? Talvez ela tivesse não a sonhar mas a vaguear pelo seu interior, alias, pelas várias camadas que constitui o nosso ser.

- Oh querida Ruby, serás tu realmente parte de mim? Serei eu capaz de voar? Serei eu capaz de controlar aquela magia que me impressiona, aquela magia que faz com que toda a terra fique coberta de um manto de flocos coloridos?

Tantas perguntas que ela tinha para expor porém talvez as coisas tivessem de ser assim, talvez ela estivesse destinada a descobrir por ela própria. Talvez esta desilusão traga algo de bom. Agora ela sabia. Teria de ter coragem porque com a ajuda do seu anjo da guarda, quer dizer a sua fada da guarda, tudo iria correr bem. Ela tinha uma voz, ela era poderosa e não podia desistir. A Ruby nunca desistiu de tentar mostrar-lhe a verdade por isso ela não iria fazer com que todos os esforços da fadinha de asas azuis fossem desperdiçados.

O dia passava, tão rápido como a chuva. Já estava a anoitecer e a jovem continuava a pensar no significado do sonho. À medida que o sol desaparecia as primeiras estrelas começava a aparecer no céu azul negro. Ela podia não ser uma estrela brilhante mas ela podia seguir as estrelas que iluminavam o céu e encontrar o caminho. E talvez um dia, daqui a muitos anos, ela se transformasse numa estrela e possa guiar muitas outras crianças, jovens e adultos que se sentirem perdido.

Possivelmente, um dia deste, ela voltará a encontrar a Ruby e agradecer-lhe. Mas por agora apenas resta-lhe respirar fundo e viver os dias tal como a sua companheira lhe mostrou. Viver verdadeiramente, porque viver numa ilusão só traz dor a longo prazo e cicatrizes que para sempre marcaram a nossa essência. Além disso devemos pensar positivamente: Aquilo que não nos mata acaba por nos tornar fortes e apenas vivemos uma vez neste mundo, temos de aproveitar. Escolher uma carreira que nos vai proporcionar satisfação. Amar, e muito. Apoiar a família pois eles estarão para sempre ao pé de nós. Escolher os amigos e mante-los por perto, eles irão ajudar-nos sempre, nos bons e nos maus momento, quer nos queiramos quer não. Planear o futuro mas não esquecer que temos de aprender com os erros do passado para poder viver um bom presente.

Viva a Liberdade! Viva a Coragem! Viva a fada Ruby, a jovem que aprendeu a verdade e o mundo que a tornou no que era! Viva a todos os jovens, que tal como ela, vivem e tentam nunca cair no profundo lago! Viva aos contos de fadas! Viva a eterna Realidade para sempre presente nas nossas vidas, quer tenhamos os pés no chão, quer estejamos a voar pelas nuvens brancas e fofinhas.

“Todos sabem o seu verdadeiro nome e aquilo que são se pensarem bem e se seguirem a corrente que os leva ao seu interior. Apenas tem de acreditar neles próprios.” – Ruby

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sonhos, promessas e desejos esquecidos


Era um dia de sol, o vento quente fazia o meu cabelo voar e o aroma a flores que se sentia no ar era maravilhoso. A rua estava infestada de néscio, idiota, pessoas irresponsáveis e crianças perdidas mas mesmo assim o dia parecia alegre. Talvez a ignorância e a estupidez tivessem deixado as pessoas cegas ao sofrimento que os ingratos provocavam às pessoas que antes as tinham cobrido de alegria e ouro. Mais à frente crianças, inconscientes e selvagens, brincam como mais ninguém sabe. No parque um jovem promete a lua à sua amada, mal sabe ela que nem sempre se consegue cumprir o que se promete ao sabor da paixão.

Tantas promessas que eu vi voarem sem serem cumpridas, tantos sonhos perdidos por estupidas coisas, coisas fúteis. Tantos corações partidos que me apareceram à frente, tantas rosas morreram nas minhas mãos que eu cheguei mesmo a pensar que todas as injustiças, toda esta parvoíce de vida e mundo fosse culpa minha. Pensei que se negasse algumas coisas, se desaparecesse com todos os sentimentos que tinha as coisas mudariam, pensei mesmo que a minha alma fosse a culpada do cinzento manto que cobria a vida.

Tentei escrever cartas, tentei acalmar a raposa branca gigante e solitária que partilhava a minha alma com aquele ser mágico que nunca antes tinha visto; ser que inundava o meu lar mental com uma luz incandescente. Mas as ruas continuavam infestadas, no parque o jovem continuava a fazer promessas e eu continuava a ver um futuro negro para todos nós. Não sei se o que eu fiz (ainda que mentalmente) mudou para pior a vida na nossa suposta realidade. Ao longe as crianças continuam a brincar nos jardins das suas casas, no parque ou em casa de amigos e as pessoas ingratas continuam a massacrar tudo e todos sem descanso.

Vivemos num mundo doloroso. As pessoas não percebem o quanto delicada é a vida, o quanto doí e o quanto sofremos. Muitas pessoas dizem para pararmos de dizer mentiras e aproveitarmos a vida, outras dizem que devemos pensar no futuro, e existem outras que choram pelo passado e estão constantemente a criticar os que não mostram que tem pena dos outros e que não choram pelo triste passado deles próprios e dos outros. Podemos ter pena de vez em quando e atendendo a certas circunstancias mas todos somos diferentes, e ninguém pode obrigar ninguém a ser como eles querem que os outros sejam.

Talvez se as pessoas não fossem assim também não haveria muitas outras coisas: livros com personagens tão estupidas que se tornam cómicas, textos que reflitam sobre essa estupidez, ideias boas que surgiram da boca de um doido mas que foram aplicadas por cientistas, esses antes de serem considerados homens e mulheres de ciência foram tolos, e a ciência antes era o conjunto de tolices. Eu não devo fugir desse grupo de tolos. Tola sou aos olhos de todos os que não me compreendem.

Ideias de uma bruxa. Palavras de uma bruxa. Quem acreditaria se eu dissesse o que vejo quando olho para as pessoas? Agora que o sol tinha desaparecido e que as crianças estavam em casa, apenas restava os pais que vinham do trabalho, cansados mas que mesmo assim abraçam e leem uma última historia para os seus filhos. Também eu fui uma dessas crianças e um dia serei um desses pais. Agora que o jovem tinha deixado a sua amada e estava rumo a casa, eu finalmente via; as promessas mantinham-se no parque, imoveis tal como eu esperava. Por mais que ele queira as promessas não seguiam o seu coração.

O mundo em que vivemos nem sempre faz o que esperamos. Quando queremos que algo acontece nem sempre é quando esperamos e às vezes nem acontece de todo. A rapariga espera ver tudo que o seu amado prometeu mas a história dela não é a de Romeu e Julieta, aquela história de amor que a mãe lhe lia quando ela era criança. As crianças que estão agora deitadas esperam do mundo algo magnífico, mas a vida não é o País das Maravilhas ou a Terra do Nunca. Os pais que agora tentam descansar desejam que um dia os seus filhos não tenham as mesmas dificuldades que eles estão a ter mas o universo não pode garantir isso.

No fim os sonhos voam altos e os desejos ainda mais alto. Na lua a Senhora Azul canaliza todos as esperanças e escrevi nos seus inúmeros pergaminhos tudo o que no universo flutua. Não ver concretizado muitos dos seus sonhos e desejos não impede as crianças, os jovens e os adultos de pedir, desejar e até sonhar. Eles têm fé que um dia sejam recompensados e que o que realmente desejam (independentemente de eles terem ou não consciência do que possa ser) lhes seja oferecido.

Também eu peço e desejo. Também eu sonho. Mesmo sendo o que sou, tenho fé. Espero que um dia a Senhora da lua me possa recompensar; talvez me leve para a lua e eu me torne a sua pupila. Talvez um dia quando o sol, a lua e o arco-íris forem um só, eu me possa tornar na Senhora Azul, ser louvada pelos seres humanos que continuaram a viver neste mundo e conceder desejos aqueles que merecem quando merecem. Serei aquela que verá as injustiças e os sonhos despedaçados. E um dia quando as três luzes se juntarem novamente o meu ciclo termina e um novo começa, tal como com toda a vida neste vasto espaço.

sábado, 7 de abril de 2012

A história da bailarina dourada


Era uma vez, numa terra que não fica no país das maravilhas, vive uma jovem de cabelos claros e olhos cintilantes. A história dela não é nenhum conto de fadas, não existe a fada madrinha como os sapatinhos de cristal e a carruagem, não existe a mansão enfeitiçada e a rosa que brilha, não existe fadas madrinhas com os seus desejos, e definitivamente não existe nenhum final “felizes para sempre” com pétalas de rosa espalhadas pelo céu. Nesta terra e nesta história a vida é difícil até ao fim e a história desta magnifica rapariga não é diferente.

Tudo começa no quarto, fotos espalhadas pelo chão, roupas em cima da cama e a rapariga a olhar seriamente para o espelho mas ao mesmo tempo com esperança. “Espelho meu, espelho meu” poderia ela começar, mas esta realidade não é nenhuma fantasia. Todos os dias os bastardos que existiam naquela vila tentavam com toda a sua força atormenta-la, rebaixa-la até ela estar no fundo do buraco que eles próprios cavaram. Usam as palavras como se fossem espadas. O que eles não sabem é que no suposto conforto do seu quarto ela, enquanto os seus olhos fixam o grande espelho, a sua mente aponta os seus inúmeros defeitos.

Lágrimas rolam pelo seu rosto, desejos cobrem o ar e no céu as nuvens passam lentamente pelo mundo cinzento. Deitada na sua cama, ela tenta juntar todos os pedacinhos de si ao mesmo tempo que sonha com os problemas a derreterem como se fossem cubos de gelo. Pedidos às estrelas cadentes e aos anjos que a vigiam para além do horizonte. Pedidos para voar, sair da vilazinha ignorante e poder ver como é a primavera nos outros países. Dançar ao som das grandes músicas e sorrir quando o sol nasce. Amar e sentir-se amada. E talvez um dia, um príncipe encantado a levasse para longe daquela terra e lhe oferecesse um quarto cheio de velas e pétalas de rosas.

Imortal e incansável, a dor seguia-a por todo o lado. Ela misturava-se com o desejo e fantasia. Gritava por nada, fazendo a pobre rapariga dançar sozinha no escuro quarto com as lágrimas no rosto e a solidão como parceira. A dor ameaçava torná-la num fantasma que dançaria para toda a eternidade, o espelho mostrava a rapariga que antes ela fora e o vento cantava uma calma e doce melodia. A sua alma despedaçada pedia desesperadamente para que os seus pedaços se juntassem e não deixassem a ilusão abraçar a frágil memória da criança que antes vivia naquele quarto e agora apenas vivia no antigo espelho de ouro.

Dançando em sincronia com a rapariga do espelho, ela tentava aos poucos abafar a dor e seguir em frente. Lutando contra o medo, lutando contra o frio da noite e pedindo à solidão para a embalar até ela adormecer. Como por magia o quarto tornou-se vazio, apenas restava o velho espelho. “Estás à espera do quê? Tens de reagir! Tens de sair desse buraco. Ele foi cavado por inúteis e ignorantes, tu não tens de estar ai. Não pertences nesse sítio húmido e escuro. Sê forte!” A voz vinha do interior do espelho, vinha da criança que ela antes conhecia, a rapariga que ela antes fora e que agora desejar voltar a ser. Os anjos começaram a cantar e uma luz brilhante aparece no lugar onde antes era o teto do quarto.

Mais uma vez a dor rompeu a fina camada que separava a alma partida do mundo exterior. A sua respiração tornou-se acelerada e confusa, o medo ameaçava atacar e leva-la para um patamar mais fundo daquele buraco infinito. Ela tentou esticar-se, tentou tocar na luz. Ela queria sair daquele lugar escuro e assustador, virar as costas e nunca mais lá voltar. Infelizmente não conseguiu, a luz estava demasiado longe. “Dança. Deixa a dor sair e conseguirás voltar à realidade. Dança e conseguirás viver.”

Dançando apaixonadamente ela conseguiu secar as lágrimas e sarar o coração. Os anjos continuavam a cantar e a luz era cada vez maior. Era ela que ia em direção da doce jovem e não o contrário. Juntamente com a música e a luz vinha a esperança. Quando a rapariga chegou ao seu verdadeiro quarto tudo estava como antes exceto o velho espelho que começava agora a transformar-se em pó dourado. E à medida que os anjos terminavam de cantar o pó mágico voava em direção ao cabelo da bailarina.

Quando as vozes desapareceram a luz desapareceu também mas desta vez a frágil bailarina já não era a mesma. Agora ela sabia qual o seu verdadeiro poder e sabia que no futuro muitas dificuldades iriam aparecer camufladas nas asas dos corvos. Nessa altura ela apenas tinha de se lembrar das palavras da menina vestida com as últimas chamas do sol, que agora se ponha no horizonte, e da magia que o velho espelho lhe tinha dado.

A partir de agora ela teria de lutar porque a vida não é um conto de fadas e ela não vive no país das maravilhas nem tem fadas madrinhas. Apesar disso, ela tem a Força de mil guerreiros e a Graciosidade de mil bailarinas, apenas teria de se lembrar que as feridas continuam a estar lá, transformadas em cicatrizes que não doem. E se ela não se esquecer das doces palavras de encorajamento tudo acabará por se resolver; independentemente do resultado, ela tem apenas de acreditar e lutar.
Este texto foi escrito especialmente para uma rapariga que me inspirou, Vanessa Brites. Sê forte querida. Luta pelo que queres e nunca deixes que os outros te empurrem para o buraco. Lembra-te eles não são melhores do que tu e tu tens direito de seres como és. Mas acima de tudo: Sê FELIZ! (Tu mereces.)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Somos guerreiros monstros

Às vezes é difícil de lutar contra a maré, principalmente quando é noite e a lua e as estrelas desapareceram. Os acidentes acontecem, pessoas morrem, nos perdemos a força para lutar e a vida parece não ter sentido nenhum. Os amigos fugiram de nós enquanto nos chamavam monstros. Dizem que não passamos de bastardos indesejados e que apenas existimos por sorte, nem sequer nos deixam explicar o que se passa, o que sentimos e o que pensamos. Não nos deixam dizer, gritar se for necessário, que sim, estamos partidos. Somos brinquedos partidos nesta grande e escura oficina. Não somos lixo, não somos sortudos por termos nascido, somos apenas seres humanos que tentam viver à sua maneira, mesmo que seja esquisita e incompreensível.

Monstros… Será que as pessoas sabem o que são monstros? Ou será que o que elas querem dizer é que somos esquisitos ou fora do normal? Não somos todos diferentes uns dos outros? Não percebo qual é a diferença entre nós, os monstros, e eles, os humanos. Pensei que monstros fossem aqueles que nos assombram os sonhos e se escondem na escuridão. Não percebo como é que nós podemos ser esses monstros. Eu apenas assombro os meus próprios sonhos e se é o facto de gostar da escuridão que me faz ser um monstro então vocês são o quê? Se só por não termos medo da dor isso nos torna monstros então é o que somos.

Uma lição que aprendi á algum tempo é que devemos aceitar o que somos e o que o universo nos dá. Se não aceitarmos o que somos como podemos ter relações e esperar que os outros nos percebam. O problema é quando os outros não querem saber o que somos, apenas ligam ao que lhes interessa. Para eles somos monstros, para eles sou a bruxa que mais parece um furacão, mas não me interessa. Aceito que sou uma bruxa, aceito que sou o monstro que talvez atormente os vossos frágeis sonhos de criança. Aceito porque sei que sou forte e que nenhum dos bastardos ingratos e néscios me vai fazer cair novamente.

As minhas feridas podem ter sarado mas a dor continua lá, por isso é que me tornei forte. Agora não luto para apagar a dor, tomei-a como minha e aceitei o que ela é, por isso agora é mais fácil. Serei o monstro porque tomei a dor como minha? Se sim, então é o que sou e nada posso fazer. A dor faz parte do que somos, assim como a alegria e a solidão. Monstros… Talvez sejamos… Será que olhar para o mundo de maneira diferente é mau? Será uma coisa assim tão monstruosa? Todos olhamos para as coisas de maneira diferente, sendo assim todos são monstros. Cruéis, assassinos e demoníacos… Nem todas as pessoas são más, nem todas são boas, logo nem todos os monstros são de os brutos e insensíveis que vocês pensam.

Se somos monstros e se vocês afirmam que o somos, então pelo menos tenham a decência de nos diferenciar. Se querem afastar-se de nós, se querem aniquilar-nos então vocês são tão monstros como nós. Não nascemos como monstros. Não somos a vossas marionetas, é por isso que vocês não gostam de nós. Não fazemos o que as crianças mimadas querem. Não deixamos de lutar contra o vosso reinado. Só por queremos coisas diferentes das princesinhas e principezinhos dos papás e das mamãs, somos considerados monstros. Injustiça!

Monstros, bruxas, demónios, aberrações, insensíveis e cruéis… Olhando para o passado vejo uma menina que encheu oceanos com as suas lágrimas salgadas, mas dentro do seu coração vejo um anjo negro. Talvez seja impressão minha, talvez esteja a ser paranoica, talvez seja mesmo má. Começo a ter dúvidas porque o futuro não é certo mas por agora vou dormir. Vou esperar que a lua apareça e me ilumine. Esperar porque ter paciência é essencial em muitas situações. Vou esperar que quando a lua nos ilumine todo o mundo possa admirar a bela daqueles que ele apelidou como sendo os Monstros.

Se tiver destinado a acontecer então vai acontecer, entretanto teremos de esperar. Esperar enquanto a lua ganha coragem para pedir ao sol para ele a iluminar e ela poder refletir a luz na nossa direção. No fim seremos nós os guerreiros nesta infinita batalha pela imortal diferença. Adeus aos humanos. Adeus aos monstros. Adeus à injustiça que nos atraiçoa a cada passo que damos. Adeus ao mundo porque este muda sempre que um de nós, monstros ou humanos, muda. E olá eterna Lua!

sábado, 24 de março de 2012

A companheira da pequena flor

Ao longe, na margem de um rio, corre uma enorme e bela pantera. Os seus olhos brilham como duas estrelas douradas num mundo alaranjado e envelhecido. Atrás de si apenas estava o sol sonolento, cansado de um longo dia a brilhar. A relva ondulava ao mesmo tempo que a cristalina água do rio. As folhas das árvores bailavam com o vento, rodeando em redor da veloz pantera. O seu pelo era negro como a noite e inúmeras gotículas de água cobriam o manto negro.
O vento trazia um aroma doce e floral, um campo de flores devia estar perto. A pantera começou a abrandar, até que finalmente as suas majestosas patas pararam antes da primeira e colorida flor do vasto campo florido à beira do largo rio. No meio de todas as flores estava uma rapariga, uma criança. A pantera olhou para ela e sentou-se enquanto a criança, alheia à presença daquela fera, colhia flores e com a sua voz de rouxinol cantava um linda canção que a sua mãe lhe havia ensinado. Uma atrás das outras, laranjas, vermelhas, amarelas, brancas… Ela colhia as flores com delicadeza e atrás dela, do outro lado daquele mar de flores, a pantera esperava atentamente.
O antigo vento começava a abrandar e o sol continuava lentamente a deitar-se no horizonte. É neste momento que a rapariga, calmamente, levanta-se e com a mão livre sacode as folhas verdes que se prendiam com força no seu lindo vestido creme. Ao virar para trás a pantera também se levantou e os seus olhos cruzaram com os da pequena boneca com as flores nos braços. O tempo parou ao mesmo tempo que a pequenita tinha deixado de cantar. Os olhos dourados fixavam os olhos meigos, o vento voltou a levantar as folhas e a empurrar a criança na direção da pantera.
Com as flores nos braços e um sorriso a formar nos seus pequenos lábios ela avançou. A pantera não se mexeu, continuando a olhar fixamente para a sua pequena parceira. Elas nunca se tinham visto antes, tinha sido sorte se assim quisermos acreditar ou talvez os Deuses, antigos e novos, tivessem querido juntar aquela pequena à sua íntima. Talvez fosse a única forma de a proteger. O vento só parou quando a rapariguinha abraçou à pantera. Mas antes das folhas bailarem para o chão uma voz ouviu-se, vinda da floresta. Acompanhada pela pantera aquela florzinha cantou durante todo o caminho até onde a sua mãe ansiosamente a esperava.

Os anos passaram, as flores murcharam, novas flores nasceram, o rio continuava a correr acompanhado ocasionalmente pelo vento e as suas folhas, as árvores cresceram e a vida continuou. Na lago de flores todos os dias se via uma jovem a cantar uma linda canção e ao seu lado, deitada com a sua cabeça gentilmente repousando no colo da sua companheira, estava a linda pantera negra com os seus olhos dourados e o seu coração em sintonia com o da pequena de olhos meigos. De vez em quando o vento faz voar folhas, traz um aroma salgado do mar para além da grande floresta e presenteia-os aqueles dois seres que ele juntou para sempre com um laço inquebrável e maravilhoso.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A força da decisora


No horizonte, a pequena feiticeira triste, abalada
Tenta repousar à sombra de uma árvore antiga.
O vento fazia as folhas bailarem e caírem lentamente
Sobre o cabeço negro da feiticeira, mas nada
A fazia reagir. Treinara, amara e sonhara infinitamente,
Agora chegara o momento da última cantiga.

Do outro lado do mundo o seu irmão esperava.
Ela tinha de o salvar e restaurar a paz ao mundo.
Faltava pouco tempo. Ela teria de entrar no barco,
Salvar a amiga, o seu amor, tudo aquilo que amava
E não queria perder. Não ira perder contra um fraco
E ingrato, que não louvou a vida e agora caia no fundo.

Ele que ela tinha perdoado, estava agora a trair
A sua confiança, levando-a a ter de reagir mais cedo
Do que era esperado. Talvez as coisas tivessem de ser
Assim e nada mais. Agora só restava uma coisa: partir
Sem saber quando iria voltar. Poderia até perder
A vida, a família ou até ver realizado o seu medo.

Talvez um adeus à paz e um adeus ao seu amor.
O que virá depois da outra onda? Será a salvação?
Terá ela decidido acertadamente? A voz trazida
Pelo vento dizia: A decisora deve decidir. Dor,
Tormento, perdição… Que triste será a vida.
Terá ela decidido isso? Oh doce coração!

Só o amanhã dirá. Talvez a Profecia no fim
Estivesse certa. Talvez não. A pequena feiticeira
Vai tentar. Vai lutar com toda a sua energia
Tal como o vento forte do inverno. Assim
Que ela entrar na batalha e aquilo que emergia
Se revelar, ela será a única e verdadeira guerreira.



Um poema feito especialmente para a Kelda (personagem querida da Saga das Pedras Magicas).

sábado, 3 de março de 2012

Lutar, aproveitar a vida e sorrir


Vou tentar com todas as minhas forças porque lutarmos por uma amizade é uma boa luta e não me importo de sofrer vezes sem conta. Diste que gostarias de manter a nossa amizade por isso vou lutar. Lutar contra os pensamentos negro que me atormentam e não me deixam ser tua amiga. Vou pegar na minha espada de luz e purificar os monstros que massacram os meus sentimentos. Tudo em nome da amizade. E quando a força parecer ter acabado, vou respirar fundo e ver o quanto já lutei, de certeza que ao ver os sacrifícios e o que ganhei com a batalha, a minha alma vai ganhar novamente forças para continuar nesta forte guerra contra os seus monstros.
Posso ser esquisita e talvez doida, posso acreditar no destino e em seres míticos, posso até ter umas ideias totalmente anormais sobre o que é a vida, a morte e o nascimento, mas uma coisa eu não sou: Não sou uma desistente. Não vou desistir, mesmo que tenha de lutar contra a minha vontade de fugir e não voltar a falar contigo. Vou lutar pelas memórias da amizade que tivemos, amizade que parte de mim deseja. Quero voltar a tocar no céu, voltar a sorrir por causa dos bons momentos que passamos juntos.
Sei que tenho a noite a cobrir-me, sei que as minhas asas tornaram-se negras e que aquilo que há muito tempo decidi ser tornou-me negativa, tornou aquilo que a maioria das pessoas não quer ter ao seu lado. Tornei-me em algo aborrecido para os outros, sem nada de cativante. Mas nesse manto negro que me cobre não existem apenas sombras; existem coisas, seres, espíritos brancos. Os meus amigos, companheiros, conhecidos, seres humanos podem negar que eles existam e talvez seja por isso que sinto medo. Medo porque não sei o que são e porque é que apenas eu os vejo.
Talvez eles tenham mesmo razão: Sou doida. Não me importo muito com o que pensam mas às vezes dói. Dói saber que talvez até tu penses isso e que mesmo assim queres ser meu amigo. Será que é por pena? Será que aceitas o que sou? Será que me queres mudar? O que queres de mim? Não suporto ter mil e uma questões na minha mente. Não suporto ter de ficar sem respostas quando as pessoas que sabem estão tão perto de mim. E ainda me perguntar porque é que não sei se vou conseguir voltar a ser tua amiga. Mesmo que lute contra mim própria, mesmo que o meu lado negativo ceda e me deixe aproveitar este curto tempo contigo, terei de sacrificar algo. Terei, talvez, de bloquear tudo o que sou até ser insuportável continuar assim. Tantas possibilidades que não ser o que fazer.
Tudo o que é bom um dia torna-se mau e tudo o que é mau um dia deixa de o ser. A luz acaba como escuridão e a escuridão renasce como luz. Tentam dizer-me que a escuridão é má e que só a luz é boa, mas será que é assim? Será que a escuridão pode ser boa? A escuridão embala-me quando estou cansada e protege-me quando a luz é muito forte e tenta maltratar-me tentando levar-me a fazer coisas que não quero. A escuridão parece perigosa mas na verdade é tão perigosa como a luz. Tão perigosa como eu. Não quero destruir tudo no fim de lutar muito. Por isso se tu estás a lutar e queres ser meu amigo sabendo o que sou, então eu só tenho de fazer o mesmo.
A verdade vai libertar-me e eu apenas tenho de continuar a acreditar que será possível. Que terei a capacidade de mover uma montanha e lutar para fazer ceder tudo o que é mau mesmo que seja por pouco tempo. Se realmente quero voltar a tocar no céu e aproveitar os poucos dias que tenho com os meus amigos tenho que deixar o passado ficar no passado e aprender com ele mas nunca viver em função dele. Tenho de esquecer o máximo que conseguir toda a energia negativa que me rodeiam e apenas absorver o calor da energia positiva. É o mínimo que posso fazer depois de ter estragado tudo.
Vou tentar mudar, pouco a pouco se necessário, e partir em frente porque não posso mudar o passado mesmo que tivesse poderes mágicos. Esquecer o que os outros dizem sobre mim e sobre aquilo em que acredito e vejo. Esquecer que há pessoas que não gostam de mim pois isso vai acontecer sempre ao longo da minha vida, seja ela longa ou curta. Esquecer a morte porque ela é muito final e a vida é cheia de possibilidades. Vou tentar lutar, aproveitar a vida e sorrir para os meus amigos porque não sei quando é que será o meu último dia a aproveitar a vida dura e maleável.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Tudo o que desejo


Tudo o que eu desejava que não acontecesse aconteceu com excepção de uma coisa, a coisa mais importante realizou-se. Então porque é que o meu coração ainda chora? Será que queria algo mais sem saber? Será que tudo o que é mau é mais forte que o meu desejo de não perder uma amizade tão importante? O que se passará comigo? Porque não posso eu ser mais forte? Tantas perguntas e nenhuma resposta. Que triste vida.
Onde é que queres chegar quando eu estou a chorar e tu sabes o porque? O que queres que te diga? Que te amava? Que não me sinto triste? Que não me vou afastar? Tudo o que disseste ecoa na minha mente. Eu já sabia mas preferi manter-me calada, pensei que se esquecesse que te amava e que tu não sentias o mesmo, tudo ficaria bem, mas tu tinhas de vir falar comigo. Tinhas de me dizer aquilo que eu já sabia, tinhas de me partir completamente o coração, tinhas de fazer tudo o que eu não queria que fizesses.
Gostava de dizer que está tudo bem, que podemos ficar amigos sem nenhum problema. A verdade é que eu ainda não te consegui esquecer e enquanto tudo não estiver apagado e o meu coração estiver curado não posso continuar perto de ti. Tudo o que desejava que não acontecesse irá acontecer. Vou afastar-me porque não quero sofrer, porque não quero apaixonar-me ainda mais por ti. Não quero ter de viver com esta dor por isso vou afastar-me o mais que puder, durante o tempo suficiente para que tudo passe. Vai ser difícil, mas a vida nunca é fácil.
Além disso não quero que tenham pena de mim. Não quero que olhem para mim e digam: Aquela é a rapariga do coração partido. Eu apenas quero que pensem em mim como a rapariga que lutou para manter o coração intacto, uma rapariga forte e corajosa. Quero que olhem para mim e vejam a escritora que sou. Não me importo que olhem para mim e vejam uma rapariga de olhos vazios, completamente partida, sem força para continuar mas não suporto que pensem que não me esforcei. Tudo o que desejo é esquecer todos os mal intendidos e todos os sentimentos de dor e raiva. Tudo o que desejo é não odiar-me por não te conseguir odiar.
Tudo o que quero é tocar no céu, poder dormir descansada e ressuscitar o meu coração. Mostrar a todos a verdadeira jovem que sou. Mesmo que no fim da estrada da desilusão o caminho pareça mais difícil eu vou lutar. Quero deixar de ouvir as tuas últimas palavras, quero esquecer esta voz na minha cabeça, quero continuar a viver livre destas correntes. Quero ser feliz. Apesar de tudo, quero é dizer que te desejo o melhor, porque se o destino não nos quer juntos é porque ele tem uma razão mais forte do que tudo, por isso espero que sejas feliz.