Era um dia de sol, o vento quente fazia o meu cabelo voar e o aroma a
flores que se sentia no ar era maravilhoso. A rua estava infestada de néscio,
idiota, pessoas irresponsáveis e crianças perdidas mas mesmo assim o dia
parecia alegre. Talvez a ignorância e a estupidez tivessem deixado as pessoas
cegas ao sofrimento que os ingratos provocavam às pessoas que antes as tinham
cobrido de alegria e ouro. Mais à frente crianças, inconscientes e selvagens,
brincam como mais ninguém sabe. No parque um jovem promete a lua à sua amada,
mal sabe ela que nem sempre se consegue cumprir o que se promete ao sabor da
paixão.
Tantas promessas que eu vi voarem sem serem cumpridas, tantos sonhos
perdidos por estupidas coisas, coisas fúteis. Tantos corações partidos que me
apareceram à frente, tantas rosas morreram nas minhas mãos que eu cheguei mesmo
a pensar que todas as injustiças, toda esta parvoíce de vida e mundo fosse
culpa minha. Pensei que se negasse algumas coisas, se desaparecesse com todos
os sentimentos que tinha as coisas mudariam, pensei mesmo que a minha alma
fosse a culpada do cinzento manto que cobria a vida.
Tentei escrever cartas, tentei acalmar a raposa branca gigante e
solitária que partilhava a minha alma com aquele ser mágico que nunca antes
tinha visto; ser que inundava o meu lar mental com uma luz incandescente. Mas
as ruas continuavam infestadas, no parque o jovem continuava a fazer promessas
e eu continuava a ver um futuro negro para todos nós. Não sei se o que eu fiz (ainda
que mentalmente) mudou para pior a vida na nossa suposta realidade. Ao longe as
crianças continuam a brincar nos jardins das suas casas, no parque ou em casa
de amigos e as pessoas ingratas continuam a massacrar tudo e todos sem
descanso.
Vivemos num mundo doloroso. As pessoas não percebem o quanto delicada é a
vida, o quanto doí e o quanto sofremos. Muitas pessoas dizem para pararmos de
dizer mentiras e aproveitarmos a vida, outras dizem que devemos pensar no
futuro, e existem outras que choram pelo passado e estão constantemente a
criticar os que não mostram que tem pena dos outros e que não choram pelo triste
passado deles próprios e dos outros. Podemos ter pena de vez em quando e
atendendo a certas circunstancias mas todos somos diferentes, e ninguém pode
obrigar ninguém a ser como eles querem que os outros sejam.
Talvez se as pessoas não fossem assim também não haveria muitas outras
coisas: livros com personagens tão estupidas que se tornam cómicas, textos que
reflitam sobre essa estupidez, ideias boas que surgiram da boca de um doido mas
que foram aplicadas por cientistas, esses antes de serem considerados homens e
mulheres de ciência foram tolos, e a ciência antes era o conjunto de tolices.
Eu não devo fugir desse grupo de tolos. Tola sou aos olhos de todos os que não
me compreendem.
Ideias de uma bruxa. Palavras de uma bruxa. Quem acreditaria se eu dissesse
o que vejo quando olho para as pessoas? Agora que o sol tinha desaparecido e
que as crianças estavam em casa, apenas restava os pais que vinham do trabalho,
cansados mas que mesmo assim abraçam e leem uma última historia para os seus
filhos. Também eu fui uma dessas crianças e um dia serei um desses pais. Agora
que o jovem tinha deixado a sua amada e estava rumo a casa, eu finalmente via;
as promessas mantinham-se no parque, imoveis tal como eu esperava. Por mais que
ele queira as promessas não seguiam o seu coração.
O mundo em que vivemos nem sempre faz o que esperamos. Quando queremos
que algo acontece nem sempre é quando esperamos e às vezes nem acontece de
todo. A rapariga espera ver tudo que o seu amado prometeu mas a história dela
não é a de Romeu e Julieta, aquela história de amor que a mãe lhe lia quando
ela era criança. As crianças que estão agora deitadas esperam do mundo algo magnífico,
mas a vida não é o País das Maravilhas ou a Terra do Nunca. Os pais que agora tentam
descansar desejam que um dia os seus filhos não tenham as mesmas dificuldades
que eles estão a ter mas o universo não pode garantir isso.
No fim os sonhos voam altos e os desejos ainda mais alto. Na lua a
Senhora Azul canaliza todos as esperanças e escrevi nos seus inúmeros
pergaminhos tudo o que no universo flutua. Não ver concretizado muitos dos seus
sonhos e desejos não impede as crianças, os jovens e os adultos de pedir,
desejar e até sonhar. Eles têm fé que um dia sejam recompensados e que o que realmente
desejam (independentemente de eles terem ou não consciência do que possa ser)
lhes seja oferecido.
Também eu peço e desejo. Também eu sonho. Mesmo sendo o que sou, tenho
fé. Espero que um dia a Senhora da lua me possa recompensar; talvez me leve para
a lua e eu me torne a sua pupila. Talvez um dia quando o sol, a lua e o
arco-íris forem um só, eu me possa tornar na Senhora Azul, ser louvada pelos
seres humanos que continuaram a viver neste mundo e conceder desejos aqueles
que merecem quando merecem. Serei aquela que verá as injustiças e os sonhos
despedaçados. E um dia quando as três luzes se juntarem novamente o meu ciclo
termina e um novo começa, tal como com toda a vida neste vasto espaço.
1 comentário:
Esta muito giro!
Parabens!
Beijinhos :)
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