Este é o local onde as palavras encantam.
Os escritores também tem sentimentos. Se sentiste, diz. Assim estaremos todos no mesmo nível de partilha.

domingo, 31 de março de 2013

Dois passos, um sonho, três desilusões e um presente

     Um suspiro… Um sorriso… Um sonho perdido no infinito mar de ruínas onde quem reina é a Desilusão. Duas voltas ao mundo não chegariam para atenuar a dor. Doce alma minha foi deixada à deriva no horizonte estrelado… E tu? Foste substituída pela maldição da visão… Tu que durante tempos lutaste contra dragões e batalhaste em guerras nos confins do guarda-roupa. Tu que tentaste libertar-te da magia negra. Tu que tentaste ajudar-me a viver. Tu que durante anos sofreste em silêncio tentas agora regressar a mim. Tentas arduamente livrar-me da maldição.
     Duas passos em diante… Três passos para trás… Estás sempre um passo atrasada. Talvez eu não valha o trabalho de ser salva. Sim, deves voltar para mim mas não deves lutar… Eu abro o caminho… Eu elimino qualquer obstáculo que possa ser criado… Talvez deva ser eu a derrotar a maldição… Dois suspiros… Três lágrimas… Um sorriso leve… Compaixão… Talvez a maldição seja na verdade o dom. Doloroso… Os dons nunca são tão fáceis por esse motivo é que eles são chamados de “maldições”. Dor… Lágrimas… E no final alegria por ter sobrevivido, por ter feito algo de bom com o “dom”. Nada mais…
     Miséria… Pobreza… Felicidade… Demência… Amor… Todos temos… Todos vemos… Todos passamos ao lado e tentamos fechar os olhos. Três saudações… Um adeus… Dois abraços apertados… Daqueles em que os nossos braços se recusam a largar a outra pessoa. Maldição… Não mereço? Não merecemos todos? Será que ninguém merece? Não há respostas. Três mil perguntas… Uma resposta… Sete perguntas novas… O tudo e o nada juntos. O coro dos anjos invisível à nossa perceção.
     Um sonho dissipado… Um novo sonho construído através de desejos e pedidos à primeira estrela da noite. Dois desejos pedidos ao génio. Coragem… Confiança… Ao terceiro nada mais que a liberdade. Um génio da lâmpada libertado do contrato e para sempre livre. Amizade… Bondade… Os desejos pedidos ao génio e os pedidos suspirados à estrela são apenas tentativas de trazer de volta a inocência e pureza que quando criança possuía.
     Não serei a luz… Não serei o fogo… Não serei nada mais nem nada menos que uma peça do meu próprio jogo. Não serei o corvo que diz “Nunca mais…”. Nem serei a Annabel Lee, jovem amada do poeta e cujo amor era cobiçado pelos anjos e demónios. Serei eu própria! Amaldiçoada com um dom e com uma alma de guerreira feiticeira. Conquistarei os corações dos anjos e demónios com as palavras mágicas que me foram concedidas. Tudo isso, nada menos…
     Abraçarei os outros com os braços com que enlacei o meu corpo partido. Ajudarei a colar todos os bocadinhos do vaso de porcelana que se vão partindo ao longo da vida. Chamarei quantas vezes forem as necessárias a minha alma. Lutarei pelos sonhos lado a lado com a Primeira Estrela e a Lua. Libertarei todos os génios dos seus contratos. Sorrirei para o Sol tal como ele me sorri. Suspirarei por detrás das máscaras que me vejo obrigada a colocar. Tudo isso, nunca menos…
     Retirarei quando necessários todas as camadas de mim. Levarei os outros a mundos desconhecidos, mundos de sonho e imaginação, mundos distantes que só eu conheço. Abraçarei o dom amaldiçoado… Dom das palavras… Dom da visão… Suspirarei mil vezes por amores… Farei outros seres emocionais pelas minhas histórias… Olharei para mim e para o mundo e direi: Dois passos em frente, um sonho no futuro, três desilusões no passado e um presente contínuo.

A máscara de Veneza e o País das Maravilhas


Agarro a verdade com tamanha firmeza. Escondendo-a dos outros… Não mostrando a mensagem das ações, tal como uma capa esconde o verdadeiro significado do livro ou como um título tenta diluir, por momentos, a nossa perceção das palavras de um bom poema. Uso as máscaras de Veneza com se fossem parte de mim. Uso-a com orgulho. Visto-me com ilusões pintadas por Da Vince e cavalgo num cavalo de Troia. Uso as máscaras como uma se fossem a minha própria pele. Um sorriso… Uma lágrima a escorrer pela máscara de pedra… Um suspiro que escapa pelos meus lábios rosados e frios… Não serei a primeira… Não serei a última…
Agarro-me aos sonhos… Voo levemente pelo céu estrelado… Voo até ao amanhecer chegar. E por momentos, quando o sol está no seu pico mais baixo, a sua luz é azul. O quanto eu desejava poder voar e entrar nesse vórtice azul. Voar para além deste mundo. Entrar através desse portal… Espelho perdido do tempo em que a Alice ainda seguia o coelho branco… Entrar no País das Maravilhas. Ver o muito com outras cores… Fazer os outros ver o mundo através dos meus olhos…
Nada passa despercebido. Apenas nós é que não conseguimos fazer sentido a todas as informações que recebemos. Voo para dentro da luz, ou pelo menos tento fazê-lo… Olha para o sol todos os dias… Vejo-o nascer uma e outra vez… Espero pelo momento certo em que o portal vai abrir. Talvez quando era criança o tenha visto e entrado nele… Talvez por esse motivo não consiga entrar agora… Talvez sonhe demasiado alto… Talvez teime em voar sabendo que a cera, que forma as minhas asas, não vá aguentar muito mais. Pensar duas vezes mais, sonhar três vezes mais…
Inspirar… Expirar… Talvez eu já veja o mundo como realmente devo ver. País das Maravilhas… Não! País dos Sonhos, da Imaginação… Talvez o Cheshire tivesse razão quando disse à Alice que todos eram malucos naquele mundo, porque agora eu vejo que não sou a única a usar uma máscara de Veneza. Todos usam… Todos tentam esconder a sua demência do resto do mundo. Mais um suspiro que me escapa… Não sou a única… Mais um suspiro… Inspira… Expira…
Mais um sorriso… Como a vida às vezes tem piada… Justiça poética… Karma… Deus tem sentido de humor… Liga-nos uns aos outros por enumeras linhas, que os matemáticos dirão ser números constantes, variantes, sequências… O Chapeleiro diria que é mais uma razão para celebrar com uma boa chávena de chá… Eu digo que é mais uma camada de máscaras que caiu… O mundo é cheio de enigmas. Mistérios perdidos… Tesouros por encontrar… Não só a primeira a pensar. Não sou a última a sonhar…

terça-feira, 26 de março de 2013

Sou a Lenda, Não Irei Julgar

     Instalando-se o escuro numa aldeia onde a vila é sempre o mesmo, onde as histórias são sempre de outros locais e nunca nada se passa ou nunca ninguém viu passar naquela aldeia, mas instalando-se o escuro chegam o tempo das histórias, das cantigas e das lendas à volta da fogueira, pequeno divertimento para preencher pequenas mentes. Ainda assim não serei eu a julgar, eu que apenas passo de uma lenda na mente dos aldeões, não serei eu a contar a verdade, nem nesta noite nem na manhã seguinte.
     Que o mundo vive na sua escuridão e monotonia, alheio às enumeras possibilidades que podemos ter se apenas olhássemos, alheio aquilo que nasce na sombra do carvalho e na antiga toca do urso pardo. Que viva o mundo apenas com o seu suposto medo que eu viverei com o meu. Que as palavras sagradas as guiem uma vez que não serão as minhas nem as das antigas histórias, que são constantemente ignoradas, a ajudarem o mundo a viver.


O texto que se segue é pequeno, sim, mas isso não importa.
Foi iscrito para uma amiga minha, na brincadeira, numa aula, numa folha dela.
Ela que não se esqueceu dele. Obrigada pelas conversas e pelos elogios.

domingo, 24 de março de 2013

O Voo do Vulto Preto

     Preto… Uma mancha preta voa, passa por mim… Alheia a mim… Alheia ao mundo… Indiferente, distante… Ela voa sobre as nossas cabeças.  Pergunto-me sobre as suas origens… Pergunto sobre o que é no agora, o que foi naquele ou noutro passado e no que será ou não no futuro, seja este qual for. E ela voa… Será um corvo? Será uma das suas penas? Não… É algo maior! Será apenas mais uma sombra deste mundo ou será um demónio do outro? E mais uma volta, mais um rodopio… Pobre é a minha alma por ter em tão pouca consideração esta complexa mancha, este vulto de algo maior.
     Oh doce e inconsolável mente, que alucinações minhas… Doce e incontrolável imaginação deixaste-me quebrar ao ver tamanha graciosidade. Serei a única a ver a mágica dança do vulto nesta noite escura apenas iluminada com algumas velas de chama branca. E ela voa… Mais um salto, mais uma volta, mais um rodopio… Será a mancha um espirito do além? Uma lagrima cai dos olhos dos meus companheiros. Não sou a única… Tanta paixão, tanta dor. Os anjos cantam. “É um espirito. É um anjo…”, dizem os que me rodeiam. Mais um salto… Uma queda… Dor… Sofrimento… E rodopiou e saltou…
     Uma luz intensa acende-se cegando-me. Por três segundos ela manteve-se intensa até que repente desapareceu com tanta rapidez como aquela que uso para chegar. Preto… O mundo estava preto… Estava cega, estava perdida… Gradualmente comecei a ver novamente. Mais vulto… Vultos vermelho sangue… Demónios sangrentos… Guerra… Medo… Morte! Saltos… Quedas… Desaparecimentos… Oh alucinações minhas! Tornaram a realidade e ficção numa só… Preto… Não. O vulto gracioso era agora dourado. Oh imaginação… Oh mente perversa vês a morte, vês o pesadelo e nem derramas uma lagrima como os meus companheiros. Sonho… Pesadelo… Só pode ser e nada mais…
     Longe… Muito longe… Ela fica imóvel, petrificada… Alheia a mim, alheia ao mundo… A vida não tem sentido. As palavras não têm significado. Só uma coisa tem significado… Só aquele olhar e nada mais. Oh… Aquele olhar que eu agora vejo tão claro como a cor dourada do vestido daquela criatura a que antes chamava vulto, mancha. Paixão… Dor… Preto no branco que agora já não é preto nem branco. Tudo junto e nada sozinho… As peças do puzzle começam agora a juntar-se. Quebrou-me com um único rodopio. Quebrou a postura dos mais fortes com um único olhar, com um único abanar de braços. Tristeza… Solidão… Tudo isso e nada mais…
     Um passo… Dois passos… Três passos… Finalmente ela começava a mexer-se. Lentamente… Graciosamente… Tal como desde o início de tudo. E eu mantinha-me ali, quieta como sempre… Inconscientemente pedia uma razão. Uma razão para todo o sofrimento, para todo o sangue espalhado. Olhos doces… Determinação no olhar… Nunca perguntei. Nunca me respondeu. E com a noite como seu palco ela rodopio uma última vez com o seu vestido dourado, saltou e voou para o horizonte. Se voltou não o sei. Aquela era a paixão… Aquela era a dor… Aquela era a Vida e nada mais.
Este texto é dedicado à minha amiga Joana Rodrigues. Happy Birthday! Be happy, love, smile and keep moving on.
Ela percebeu o que o texto dizia e isso é que interessa.
Guarda no coração estas palavras: Sonha alto, luta pelos teus objetivos, nunca percas esse sorriso brilhante e esse olhar feroz e determinado, ama e abraça a felicidade, ultrapassa o medo e derrota o sofrimento, nunca te deixes abater pela tristeza e se isso acontecer apoia-te na família e nos amigos porque eles vão ajudar-te no que for preciso, dá a mão a quem precisa, vive cada dia da melhor forma possível...