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sábado, 24 de março de 2012

A companheira da pequena flor

Ao longe, na margem de um rio, corre uma enorme e bela pantera. Os seus olhos brilham como duas estrelas douradas num mundo alaranjado e envelhecido. Atrás de si apenas estava o sol sonolento, cansado de um longo dia a brilhar. A relva ondulava ao mesmo tempo que a cristalina água do rio. As folhas das árvores bailavam com o vento, rodeando em redor da veloz pantera. O seu pelo era negro como a noite e inúmeras gotículas de água cobriam o manto negro.
O vento trazia um aroma doce e floral, um campo de flores devia estar perto. A pantera começou a abrandar, até que finalmente as suas majestosas patas pararam antes da primeira e colorida flor do vasto campo florido à beira do largo rio. No meio de todas as flores estava uma rapariga, uma criança. A pantera olhou para ela e sentou-se enquanto a criança, alheia à presença daquela fera, colhia flores e com a sua voz de rouxinol cantava um linda canção que a sua mãe lhe havia ensinado. Uma atrás das outras, laranjas, vermelhas, amarelas, brancas… Ela colhia as flores com delicadeza e atrás dela, do outro lado daquele mar de flores, a pantera esperava atentamente.
O antigo vento começava a abrandar e o sol continuava lentamente a deitar-se no horizonte. É neste momento que a rapariga, calmamente, levanta-se e com a mão livre sacode as folhas verdes que se prendiam com força no seu lindo vestido creme. Ao virar para trás a pantera também se levantou e os seus olhos cruzaram com os da pequena boneca com as flores nos braços. O tempo parou ao mesmo tempo que a pequenita tinha deixado de cantar. Os olhos dourados fixavam os olhos meigos, o vento voltou a levantar as folhas e a empurrar a criança na direção da pantera.
Com as flores nos braços e um sorriso a formar nos seus pequenos lábios ela avançou. A pantera não se mexeu, continuando a olhar fixamente para a sua pequena parceira. Elas nunca se tinham visto antes, tinha sido sorte se assim quisermos acreditar ou talvez os Deuses, antigos e novos, tivessem querido juntar aquela pequena à sua íntima. Talvez fosse a única forma de a proteger. O vento só parou quando a rapariguinha abraçou à pantera. Mas antes das folhas bailarem para o chão uma voz ouviu-se, vinda da floresta. Acompanhada pela pantera aquela florzinha cantou durante todo o caminho até onde a sua mãe ansiosamente a esperava.

Os anos passaram, as flores murcharam, novas flores nasceram, o rio continuava a correr acompanhado ocasionalmente pelo vento e as suas folhas, as árvores cresceram e a vida continuou. Na lago de flores todos os dias se via uma jovem a cantar uma linda canção e ao seu lado, deitada com a sua cabeça gentilmente repousando no colo da sua companheira, estava a linda pantera negra com os seus olhos dourados e o seu coração em sintonia com o da pequena de olhos meigos. De vez em quando o vento faz voar folhas, traz um aroma salgado do mar para além da grande floresta e presenteia-os aqueles dois seres que ele juntou para sempre com um laço inquebrável e maravilhoso.