Este é o local onde as palavras encantam.
Os escritores também tem sentimentos. Se sentiste, diz. Assim estaremos todos no mesmo nível de partilha.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Um caderno, uma pena, um caminho



Escuridão… Tremenda noite sem estrelas. Porque haveria ele de passar as ruas pouco iluminadas sabendo do perigo que corria? Só ele sabia. Só ele, aquele jovem, poderia responder a questões tão complexas como esta com uma resposta tão simples quanto o rio a correr. Certamente, só ele poderia louvar sobre um momento perdido no tempo e espaço. Num passado fixo, num futuro oscilante, somente ele percorreria a calçada deserta com um caderno nas mãos e uma pena debaixo do chapéu. Carregando o seu mundo nos ombros, ele dá passos um tanto firmes sobre um piso irregular.
Não havia vento, porém, a noite era fria sem tais corrente de ar passando pelos corpos dos corajosos que se encontravam à porta de um café no virar da esquina. E para o jovem… Com o seu caderno de capa preta, folhas escritas e notas feitas nas páginas bege, ele caminha pela calçada. O sol que desaparecera em pó num horizonte nunca alcançado. Só o rapaz sabia o porque do tremer na sua mão dominante, o porque dos momentos de ouro que atingiam-no com a ansia de um novo dia, o porque do sussurro numa escuridão perdida. Só ele… Mais ninguém.
A rendição… A imposição no solo firme debaixo dos seus pés. Nada o pararia de dar um novo passo. Ele render-se-ia ao sonho, ao batalhar doloroso contra um algo a que nada se poderia fazer. A vingança de nada serviria, e o choro acumulado não seria bom para o coração sentimental. O fogo a arder na sua alma crescia com o impor dos pensamentos sobre um acreditar. O caderno continua escrito, a pena continua escondida no chapéu escuro e a longa capa faz o seu corpo perder-se numa escuridão vinda do norte.
Um novo dia viria… As luzes brilhantes ocultam a pequena sombra da dúvida subtil. A chuva viria durante um céu escuro estrelado. Fadas dançariam pelos campos floridos do grande parque. O olhar sábio do jovem rolava pela beleza do dia e da noite, pela tristeza da mulher sentada no banco do jardim, e pelas estrelas invisíveis daquela noite. As gotas que nunca mais chegaram lavariam as lágrimas que sempre caiem quando a saudade aperta.
Escuridão… Tremenda noite sem estrelas num céu negro. E ele passava pela rua deserta, nunca parando, nunca deixando de sonhar e sentir umas mãos nos seus ombros guiando-o pelos caminhos difíceis e fáceis da vida, ajudando-o a libertar-se do peso sobre as suas costas através de um caderno e de uma pena. Ele era o que era sem nunca esquecer do amor no seu peito e a inspiração na sua mente. O olhar forte, e o sonhar constante e imperfeito numa vida injusta e nem sempre correta. As asas que ele possuía eram invisíveis, e as lágrimas, que não caiam naquela noite, eram salgadas e sofredoras. E a calçada continuava, seguindo ele atrás de um desejo a realizar. A rendição de um dia de chuva e de um sol a quebrar a escuridão. Uma reza e um poema…

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Uma nova estrela no céu

Tenho estado a pensar numa forma de dizer tudo o que estou a sentir neste momento. Todavia, nada existe que equivale remotamente ao que estou a sentir. Perdi uma grande amiga. Perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida. A minha contadora de histórias, aquela que me acariciava e mimava.

Nenhuma lágrima limpara a dor do meu peito. Nada voltará a ser o mesmo. E se Deus a chamou, eu não poderei fazer nada. Nada de nada! E é isso que me deixa frustrada.

Quem alguma vez perdeu uma pessoa amada, saberá que nenhuma palavra nos ajudara. Porém, o sentimento, o saber da existência do apoio de todos... Isso talvez nos ajude.

O tempo terá de passar. Muitos dias morreram e nasceram vezes sem conta até eu me sentir capaz de voltar a olhar para as fotografias dela sem me lembrar do vazio na minha alma e na minha vida.

Agradeço a todos aqueles que alegaram a vida da minha avó. A todos aqueles que a apoiaram. Porque sei que ela viverá nos nossos corações e memórias. E garanto que será louvada nas palavras das minhas histórias. E só espero que ela se orgulhe de mim e me guarde no meu caminho.

Ela será uma estrela no imenso céu azul-escuro.
 


Amo-te, avó. Sempre irei amar.