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sexta-feira, 11 de julho de 2014

As palavras dela



A noite passa e o dia amanhece. Lento o meu sonho parte com a lua, num horizonte sombrio. Se naquela noite estrelada, eu fui a guerreira e lutei num campo de batalha, naquela manhã, eu era a mulher se olha no espelho e deseja desaparecer no reflexo, nas palavras de um sonho, nos olhos daquela que me consume através do negro da sua íris. Desaparecer com o toque do vento madrugador, bailando pela janela aberta do meu quarto.
Ver as palavras perdidas na superfície lisa e reconhecer o autor sem necessitar de assinatura. Ver o ondular das letras, a fluidez típica dele, dela, de um “nós” distante. E para trás, no fundo do espelho, no mundo obscuro, a mensagem tornasse cada vez mais óbvia e o seu poder mais forte. A luz pálida do sol reflete e faz a frase saltar do vidro espelhado.
O silêncio de uma madrugada em constante movimento, com a necessidade a acumular-se no meu corpo. A vontade de deslizar pelas garras dos monstros para lá do espelho, no mundo obscuro. Elas prendem-me. Tentam impedir-me de abraçar as palavras perdidas. Quero o fim, quero a salvação. Quero olhar para o meu reflexo e não ver sofrimento.
As palavras do “nós”, as palavras que escrevi numa noite passada… Ele, eu, o passado. A guerra num mundo em tempos inexistente para além do presente. “Precisas de viver.” Começava a mensagem. “Sorri, ama e luta.” Dizia a mulher para mim, serena como sempre. “Somos fortes. Somos guerreiras.”

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