A
noite passa e o dia amanhece. Lento o meu sonho parte com a lua, num horizonte
sombrio. Se naquela noite estrelada, eu fui a guerreira e lutei num campo de
batalha, naquela manhã, eu era a mulher se olha no espelho e deseja desaparecer
no reflexo, nas palavras de um sonho, nos olhos daquela que me consume através
do negro da sua íris. Desaparecer com o toque do vento madrugador, bailando
pela janela aberta do meu quarto.
Ver
as palavras perdidas na superfície lisa e reconhecer o autor sem necessitar de
assinatura. Ver o ondular das letras, a fluidez típica dele, dela, de um “nós”
distante. E para trás, no fundo do espelho, no mundo obscuro, a mensagem
tornasse cada vez mais óbvia e o seu poder mais forte. A luz pálida do sol
reflete e faz a frase saltar do vidro espelhado.
O
silêncio de uma madrugada em constante movimento, com a necessidade a
acumular-se no meu corpo. A vontade de deslizar pelas garras dos monstros para
lá do espelho, no mundo obscuro. Elas prendem-me. Tentam impedir-me de abraçar
as palavras perdidas. Quero o fim, quero a salvação. Quero olhar para o meu
reflexo e não ver sofrimento.
As
palavras do “nós”, as palavras que escrevi numa noite passada… Ele, eu, o
passado. A guerra num mundo em tempos inexistente para além do presente.
“Precisas de viver.” Começava a mensagem. “Sorri, ama e luta.” Dizia a mulher
para mim, serena como sempre. “Somos fortes. Somos guerreiras.”
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