Uma pena branca a
voar pelo vento, bailando com as folhas, deixando o seu toque nos lugares mais
obscuros das almas inocentes. O som do violoncelo numa manhã cinzenta, quando
os suspiros reinam as ruas e a lua tenta desaparecer num horizonte escondido. A
melodia rustica de um dia, os sonhos a voltarem neste ciclo parcialmente
incompleto, e o dedilhar nas cordas deixando o sobressalto no eco. O
"adeus" perdido num múrmurio. A pena suave e sedosa num constante voo
pelo mundo.
A água do rio a
chamar pela mulher de vermelho. A cantar ao embater nas pedras da cascata.
Vezes e vezes sem conta. Corrente e vento numa dança circular. E ela vem. Vem a pé pelo caminho de terra
humida e raízes. O seu nome a vibrar por uma força invísivel, para sempre
incompreensível pelos que os escutam sem serem merecedores. E ai vai ela.
Levemente ela caminha. Passo e passo, para o rio de água fria.
Virá ela para o campo
florido ou ficará na cascada arrebatadora? A pena voa em seu redor. A sua palidez
em contraste com a violência viva do vestido. A floresta e os seus terrenos,
nunca secos, dizem para correr, dizem para saltar e subir ás árvores. Virá ou
não virá? Dançará ao som do violoncelo ou dedilhará nas cordas, criando a
melodia do vento?
Os sonhos da sua
noite, os pesadelos e os monstros escondidos nas sombras, dançam pelo ar sobre
a corrente do rio, acelerando as águas. Se a mulher de vermelho chegasse,
descalça e assobiando o ritmo e batucando na madeira das árvores de todos os
momentos que o seu nome ecoasse pelo vento, talvez fosse o suficiente para
cantar sobre a loucura num tom melancólico.
O "adeus"
será dedilhado nas cordas do violoncelo e morrerá nas águas do rio. Virá ou não
virá? Quando para a pena branca? Quando deixa o vestido vermelho de esvoaçar no
vento quente de um verão inconstante? A melodia rustica para a loucura de
ondular nas vibrações da água. Virá ou não virá? O tempo para, o silêncio
inunda um mundo cinzento, a melodia abranda até á extinção. Sim... Talvez... A
pena branca poisa. Os passos são o único eco na floresta depois das ruas,
debaixo do olhar inexistente da lua. Passos firmes. Virá...