Vejo o azul perdido dos
olhos vidrados. A pele branca, como a escadaria de mármore, perde o seu brilho
e o seu calor. As lágrimas secas, depositadas nas bochechas sem vigor. Os
lábios vermelhos tentando os amantes. Os longos cabelos ondulam pelas suas
costas como uma cascata negra. Tudo para atingir a postura de uma boneca de
porcelana. A beleza prometida durante a primeira queda de neve.
O frio a cobrir a promessa
passada, cruelmente sacrificando-a em prole da sua sobrevivência. Os arrepios
de prazer numa manhã de solene exploração de um novo dia. O toque das mãos
ásperas do guerreiro. Num dia… Um simples e monótono dia, onde nada mais se
pode esperar que não andar pelas ruas e ver o tempo passar. Nesse mesmo dia, por
mais que ela queira erguer-se da cadeira e observar o mundo, é impossível. Não
porque o seu corpo é demasiado frágil. Não… Essa não é de todo a razão.
A petrificação do seu
corpo levava-a a deixar para trás tudo o que antes louvava. O caminhar pelas
ruas. A monotonia de um dia de neve. O passeio pelo jardim, sol a bater na cara
e pássaros a cantar. Agora… Devido à promessa passada. Devido à beleza antes
nunca alcançada, se não pelas mãos do trabalhador dotado. Devido ao desejo de
vir a ser a boneca sentada numa cadeira e ver o seu mestre criar outras como
ela. Devido a todo o tempo perdido a desejar aquilo que nenhuma mulher tinha.
Ela iniciou a transformação. Boneca de porcelana num dia de neve.
A razão… A derradeira,
cruel e fria razão para ela não sair é o seu desejo. Com a cabeça ligeiramente
inclinada para a direita, observando os seres humanos a passarem na rua, ela
espera. Espera obter a beleza prometida durante a primeira queda de neve. O dia
de verão nada trará se não a vontade de receber o toque do sol e receber o
arrepio do vento quente. De voltar a ver o guerreiro que antes partira para a
guerra. De receber o seu toque. Porém, ela fica quieta. Respirando calmamente,
vendo o dia passar até a noite chegar e a cama a acolher de braços aberto.
Apenas ela sabe. Apenas
ela aguarda quieta, na mesma cadeira. Petrificando lentamente. Não será a
beleza física que a chama agora. Talvez na noite anterior fora. Não nesta
manhã. É a beleza do dia em que a porta abrira e que o vento traga o toque áspero
daquele que prometera encontra-la na loja das bonecas de porcelana. Nem
lágrimas nem sorrisos. Petrificação pela espera. Batom vermelho preste a ser
quebrado. Pele branca desejando por receber o corar da humanidade nela. Cabelos
pedindo para serem tocados.
E ela espera. Olhando pela
janela da sua loja. Rodeada pelas bonecas que criara. Bonecas que, tal como ela,
aguardavam o dia em que o seu destino entrasse pela porta e as abraçasse. A
beleza de tal dia. A Boneca de porcelana esperando pelo dia. Por ver a promessa
passada, cumprida. O sacrifício do seu corpo parcialmente petrificado em prole
da promessa. Sentada ela fica. Dia após dia… Respirando suavemente. Cabelos
deslizando como correntes de água negra. Olhos azuis perdidos no horizonte,
copiando o movimento do céu. E espera… Na cadeira ela espera…
3 comentários:
Estaa mesmo giroo :)
Continua!
:)
Obrigada Nadine. :)
Podes ter a certeza que vou continuar. :D
Olá
Que excelente partilha.
Beijos
http://www.pratocaseiro.blogspot.pt/
Enviar um comentário