Chuva bate violentamente na janela do meu quarto. Oiço o meu nome num
grito atormentado. Um arrepio penetra a minha pele e percorre os meus ossos. A
dor atinge-me como um raio. Escondo-me debaixo dos cobertores no canto da jaula
de pedra, madeira e tecido. O meu nome ecoa no ar, tão alto como a tempestade.
Três explosões de luz ocorreram, iluminando todos os pingos, que aceleravam a
descida. Pingo atrás de pingo... O embater constante e furioso no vidro e no
telhado. Grito atrás de grito. Sofrimento e raiva.
A luz branca, refletida nas quatro paredes, assombra momentaneamente a
minha alma desnorteada no teto azul-escuro. O cobertor de lã separa-me do frio.
Afasta fracamente a minha escuridão, impedindo-a de corromper todos os seres da
rua. Petrifiquei ao ouvir novamente o grito das almas penadas e o choro das
almas perdidas no colossal manto lamacento, que cobre o mundo.
Sentia a minha alma chorar, gritar e explodir energia enquanto o meu
corpo termia descontroladamente de ódio pela minha própria condição, sofrimento
e devido ao terro no quarto. Terror, este, que competia continuamente com a
minha escuridão. Termia e arrependia-me dos meus pensamentos chegarem aquele
ponto. Não podia culpar mais ninguém. Apenas eu, puramente aquela que escolhera
lembrar e chamar os seus demónios.
Levantei-me do chão de madeira. Cobertor vermelho aos meus pés, corpo
pesado. Um novo grito poluiu o ar. Vindo da rua, ele vibrou a prisão. O meu
nome soava imperfeito e áspero na voz do ser da noite. Será uma ilusão? Bati na
parede, porém as vozes constantes continuaram a atormentar-me. Nome… O nome
seguido de risos maquiavélicos. Não lhes dera esse direito. Era o meu nome. Era
a minha mente. O meu mundo… O meu sonho!
Sacudi a mente contra a parede escurecida. Esmurrei três vezes o mesmo
lugar e tombei na madeira. Quedei-me impossibilitada de derramar uma única
lágrima, proibida de grita com a minha, rouca e vulgar, voz. Fatiga, dor e
raiva tomaram conta dos meus olhos. Recusei-me a fecha-los. Fixei o azul
profundo desgasto. Sombras fabricadas a partir da escuridão e da tempestade
luminosa. Todas elas bailavam na jaula de pedra e tecido. Neguei o convite para
me juntar a elas. As vozes no exterior perturbavam-me. No entanto, a melodia
silenciosa tentava a minha pele. Vi-a ser absorvida e fundir-se ao meu corpo.
Nunca sentira o meu ser tão leve e relaxado. Os gritos tornavam-se
distantes, os choros paravam. A minha alma regressava. O meu nome desaparecia
da boca dos seres da noite. A tempestade dissipava, deixando apenas a luz da
lua brilhar por entre as nuvens. Fazendo os pingos da janela lembrar os
cristais do sonho de infância, a claridade sorria. Início da dança. Salvar a
vida e libertar os demónios e sombras em mim. Fim do pesadelo. O será ilusão no
mar de sonhos?
2 comentários:
Ha algum tempo que nao lia os teus textos. Ja tinha saudades, adoro a forma como escreves, e parabens por mais um dos teus textos fantasticos. Parabens :)
Obrigada Nadine. :)
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