Uma sombra cinzenta veio
ter comigo. Era de noite. Uma noite pálida. Sem lua, sem estrelas que pudessem
brilhar totalmente irrompendo as nuvens. Ela dança em meu redor. A música
frenética do mar num embate irregular com as rochas acordava aos pássaros noturnos.
Frente, trás! Boom! Frente, lado, trás! Bang! Boom! Trás, direita, trás,
frente! E continuava a dançar em meu redor. Uma coruja voou perto de nós. Voou
em pique. A sombra rodopiou. Saltou para frente… Perdi-me nos seus movimentos.
O som do vento tornou-se o
som dos violinos. A orquestra começou. Despertei e segui a sombra. Segui o
rasto de pegadas vermelhas invisíveis. Soltei um uivo. Parei. Rodopiei como a
sombra. Frente, trás! O mar colidia contra as pedras frias. Para frente e para
trás. A sombra vibrou ao meu lado. Vi o lobo cinzento aproximar-se. Dei um
passo. Frente, trás… Olhos nos olhos… Um rodopio da sombra… Um passo do lobo…
Tic tac… Tic tac… Jurava que conseguia ouvir o relógio da sala. Mais um passo…
Um rodopio… Um voo…
Fechei os olhos, inspirei.
Frente, trás… O vento fez o meu cabelo voar e perfumou-o com o cheiro do mar.
Direita, esquerda, trás… Um rodopio… Um salto… Uma queda… Um uivo… À minha
frente o lobo tinha desaparecido. A sombra mantinha-se em pontas de pés, pronta
para mais um salto. Sustive a respiração. Saltei. Dissipei-me no ar. Sorri… Tic
tac… Tic tac… Lá estava o relógio. Cai… A sombra acenou. Dizia adeus. Frente,
trás… Cai na água. Dissolvi-me. Um último suspiro.
Tic tac… Tic tac… Adeus… Bem-vinda…
O mundo sem fim… Um último sonho… Um último suspiro. O som do violino. A dança
angelical. Uma queda e um voo. O mar frenético e o vento a embalar. Boom! Baam!
Sentia o meu cabelo a tocar-me na face. O perfume do mar a delirar. Um passo…
Dois passos… Três passos… O silêncio profundo na escuridão. O vibrar silencioso
do chão invisível. Frente, trás. Direita, esquerda… E por fim, nada! O final…
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