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domingo, 19 de maio de 2013

O som da natureza e a dança da sombra

     Uma sombra cinzenta veio ter comigo. Era de noite. Uma noite pálida. Sem lua, sem estrelas que pudessem brilhar totalmente irrompendo as nuvens. Ela dança em meu redor. A música frenética do mar num embate irregular com as rochas acordava aos pássaros noturnos. Frente, trás! Boom! Frente, lado, trás! Bang! Boom! Trás, direita, trás, frente! E continuava a dançar em meu redor. Uma coruja voou perto de nós. Voou em pique. A sombra rodopiou. Saltou para frente… Perdi-me nos seus movimentos.
     O som do vento tornou-se o som dos violinos. A orquestra começou. Despertei e segui a sombra. Segui o rasto de pegadas vermelhas invisíveis. Soltei um uivo. Parei. Rodopiei como a sombra. Frente, trás! O mar colidia contra as pedras frias. Para frente e para trás. A sombra vibrou ao meu lado. Vi o lobo cinzento aproximar-se. Dei um passo. Frente, trás… Olhos nos olhos… Um rodopio da sombra… Um passo do lobo… Tic tac… Tic tac… Jurava que conseguia ouvir o relógio da sala. Mais um passo… Um rodopio… Um voo…
     Fechei os olhos, inspirei. Frente, trás… O vento fez o meu cabelo voar e perfumou-o com o cheiro do mar. Direita, esquerda, trás… Um rodopio… Um salto… Uma queda… Um uivo… À minha frente o lobo tinha desaparecido. A sombra mantinha-se em pontas de pés, pronta para mais um salto. Sustive a respiração. Saltei. Dissipei-me no ar. Sorri… Tic tac… Tic tac… Lá estava o relógio. Cai… A sombra acenou. Dizia adeus. Frente, trás… Cai na água. Dissolvi-me. Um último suspiro.
     Tic tac… Tic tac… Adeus… Bem-vinda… O mundo sem fim… Um último sonho… Um último suspiro. O som do violino. A dança angelical. Uma queda e um voo. O mar frenético e o vento a embalar. Boom! Baam! Sentia o meu cabelo a tocar-me na face. O perfume do mar a delirar. Um passo… Dois passos… Três passos… O silêncio profundo na escuridão. O vibrar silencioso do chão invisível. Frente, trás. Direita, esquerda… E por fim, nada! O final…

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