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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Bruxa do Nada e o Fim dos Tempos


Virá um tempo em que o mar azul será substituído por um mar vermelho ardente e o céu será sempre negro. Virá o momento em que homens lutarão por um pedacinho de alegria putrefeita, que ficou esquecida no fundo da gaveta dos armários dos grandes senhores. Virá o Fim pintado com cores monótonas; um Fim onde as perdas materiais serão mais problemáticas que quaisquer outras. No final, quando as estrelas deixarem de ser visíveis, os pássaros deixarem de voar e os peixes saltarem todos da água, refugiando-se na terra instável, talvez as coisas pareçam fazer sentido. Não teremos nós criticado a Terra apesar de esta nos ter fornecido alimento e os recursos para podermos sobreviver?

Ignoramos, maltratamos e sacrificamos o bem de outros (fossem um ser humano ou uma montanha) em prole do nosso egoísmo, da nossa extrema necessidade fútil de materiais. Desejamos mais e mais sem nunca saber quando parar. Ou talvez soubéssemos, apenas poderíamos não desejar terminar a acumulação de objetos supérfluos. Louvados sejam aqueles que se mantiveram quietos e contentes com o que tinham, desejam apenas o básico, mas mesmo esses a dada altura juntaram-se aos seguidores da Bruxa do Nada.

Escapar ou não escapar já não é uma questão que nos diz respeito. Perdemos o direito a escapar ou não do Fim. Agora estamos nas mãos de uma força maior. Essa força maior, a que chamamos Ser Divino, irá cobrir a terra de chamas antes de sequer nos permitir de expormos as nossas razões. O que não é de admirar. Quem é que mandou o ser humano ser arrogante? Quem nos deu autorização para maltratar tudo o que passava à nossa frente? Quem nos disse que podíamos matar aquilo que permaneceu durante anos quieto no meio dos seus parentes e nunca nos tentou atacar? Perder, viver na tortura e morrer. O que será melhor? O que é que realmente merecem aqueles que seguem pelo caminho pouco iluminado de areia e pedras?

Sentados nos seus tronos de ouro e seda, estão os sete reis dos sete reinos das sete cores. O Ser Divino anunciou a sentença. Cabe aos reis destruir o oitavo reino e a sua líder. Se é impossível ou não, só no futuro se saberá. Mas só eles podem lutar, só eles tem a liberdade e coragem para o fazer. E nós, que condenamos o mundo à sua destruição ao seguir a Rainha do Nada, temos os melhores lugares para observar a batalha. Ainda que a barreira entre a batalha e nós seja muito fina, continua a ser suficientemente forte para suportar todas as nossas tentativas de nos libertarmos das corrente, atravessar a parede e decidir o nosso futuro por nós próprios.

Contudo, a liberdade total não estava ao nosso alcance. Perdemos esse direito, essa capacidade de voar e escolher o que queremos e achamos que merecemos na nossa vida. Voamos demasiado perto do sol e agora estamos em queda livre e assente em terra firme não há ninguém para nos amparar a queda. Estávamos destinados a autodestruirmo-nos, mais cedo ou mais tarde iria acontecer, se continuássemos a agir da mesma forma. Parece que o momento chegou. As flamas do submundo chegarão ao céu e nada escapará. Ainda que se os sete reinos conseguirem retirar as sete pedras das mãos da rainha do oitavo reino e nós reflitamos, provemos que estamos a mudar e que tentaremos repor a ordem do mundo então, talvez, consigamos sobreviver.

Até agora as coisas estão a decorrer a um ritmo acelerado. Parece que temos de esperar para ver como corre. Fim dos Tempos ou não. Já decorrer o segundo julgamento, mas nós, seres humanos desatentos, só iremos perceber qual é a segunda sentença quando ela começar a ser implementada. Os nossos olhos não querem ver aquilo que está a acontecer. Até lá continuamos a seguir a Rainha do oitavo reino, continuamos a dar ouvidos aquela que é a Bruxa do Nada. Continuamos perdidos na nossa própria casa, na nossa própria cidade, no nosso próprio país. Perdido neste mundo…

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