Os passos acelerados pela areia quente
de um caminho atarefado, onde pessoas entravam e saiam de lojas, carregando os
seus cestos e sacos de pano. Ela quase corria, desviando-se da multidão,
olhando para trás com receio não das sombras, mas daquilo que essas guardavam
por completo dos olhares indesejados. Com o capuz da capa negra cobrindo os
seus longos cabelos castanhos-claros, a jovem escondia-se daqueles que procuravam
a adaga de prata.
Sons metálicos ecoavam por cima de todos
os respirares, gritos e restantes bárbaros sons naquela popular estrada. Passo
atrás de passo. A canção de quem perdeu a luz da sua própria alma. Os lamentos
dos inocentes, dos quebrados, dos para sempre desaparecidos nos desertos da
vida. Assim ela caminha, rápido e com cuidado, pelas estradas, sem nunca parar.
Olhando para trás, vendo homens armados seguindo-a sem que os seus olhos
embatam nos dela, sem tendo cuidado com as pessoas ocupando a poeirenta rua,
que se ramificava em muitas outras. Não um, nem sequer dois ou três. Vinte e um
homens a marcharem com a brutalidade de mil animais selvagens e duzentos
guerreiros de outro tempo.
Ela passava. Rezando… Talvez apenas
pedindo, fosse a que fosse… Uma súplica silenciosa a uma entidade superior.
Passa atrás de passo. A melodia de uma viúva nos braços da sua filha mais
velha. O choro de uma criança que caíra no de terra e pedras. Assim ela ia rumo
a um destino há muito alterado, pois o futuro mudava com cada ouro derramado.
Isso, ela sabia; acima de tudo, ela compreendia o ciclo da vida. O amargo a
acumular-se na sua boca com cada passa dado.
A capa negra voava como os movimentos e
vento fresco da primavera. O andar metalizado não acabava, não se afastava e
não desaparecia. Nunca iria desaparecer. Ao longe ela via a escadaria que a
levava à praça central; um lugar amplo, onde muitos mercadores vendiam as suas
recentes cargas e os aldeões compravam sem parar. Apenas essa palavra preenchia
a mente dela naquele momento, “parar”. Assim era, assim sempre seria, até
alguém virar a esquina e dizer “continuar”.
Marchar, marchar… Passo e passo, uma
canção de embalar para quem nunca conheceu outro som durante toda a sua curta
vida. Crianças a brincarem, ignorando os choros daquelas que caíram. Mulheres
gritando e novas esposas levando as roupas sujas à fonte. Tudo corria, tudo
continuava. Sim, continuava… E também a jovem o fazia. Protegendo a adaga de
prata, não a mostrando a quem quer que se aproximasse. Guardando essa arma
invisível no seu interior. Nada lhe roubaria a prata da sua alma. Nada levaria
o sangue a derramar-se sobre a areia do caminho. Caminhando apressadamente ela
foi. Rumo ao reino dourado.