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sábado, 22 de fevereiro de 2014

A Rua Sem Saída

Para a Mariana. A minha segunda irmã, a minha cupcake baker. Love you. Be happy.
(Batman lover forever) *-*


Um ruído vindo de uma rua sem saída ecoou pelos paralelos e paredes das casas que formavam a escuridão naquele lugar. Não muito longe dali, uma melodia constante, pingo atrás de pingo, gotas de água a caírem numa poça. Esse som repetia-se pela ruela. Ping… Ping… Ping… Um som a combater pela atenção dos monótonos homens de negócios, que por ali passavam, com os seus fatos lisos, enfadonhos e desprovidos de personalidade. O ruido na rua sem saída era mais forte.
O que quer que fosse, que arrepiava o meu corpo com os gritos de desespero e agonia, tinha a voz mais aguda alguma vez ouvida. Nem parecia ouvir. Como se o som fosse inaudível. Porque não fazia ele o mesmo comigo? Ou porque não derretia ele os ossos dos que passavam na rua principal? Alucinação… Loucura… Nenhuma outra explicação.
Queria fechar os olhos e correr para longe dali. Queria virar os pés e partir. Obrigar o meu corpo a não ceder à tentação de avançar. Ping… Ping… Ping… Grito abafado. O vento embateu no meu corpo. Trazia o leve cheiro salgado. Sangue e suor… Inclinei-me para a frente e fechei finalmente os olhos. Respirei fundo e esperei. Não sei pelo que. Mas esperei…
Abri os olhos. As sombras menos escuras, no fim da rua sem saída, lutavam. Alguém lutava. Andei… Andei com curiosidade e não com coragem. Fui descuidada. Não devia ter andado. Fui de encontrão com um homem de negócios. Ele ralhou. Chamou-me nomes e nem sequer esperou pelo meu pedido de desculpas ou para me ajudar a sair do chão lamacento. Humilhação não se comparou ao som contínuo vindo da minha direita.
Levantei-me, caminhei e caminhei. Senti lágrimas a escorrerem pela minha face. Cheguei ao fim da rua sem saída. Os gritos pararam. Nenhum som ecoava sem ser o das gotas de água ao juntarem-se à poça. A lua escapou pelas nuvens. Lágrimas caíram. Tanta destruição. Tanta dor. Miserável e descontrolado som… Agora compreendia. Agora sabia… Nada mais do que a verdade.
Um respirar tocou-me de leve no pescoço. Recusei-me a virar e ver quem era. Tinha medo. Tanto medo… E no fim, quando eu pensava que nada mais podia partir o meu corpo, a minha alma, tudo o que fazia de mim aquilo que era, o respirar parou. A sombra levou a sombra. E eu desabei no chão húmido da rua sem saída. Olhos fechados… Dor, miséria, medo… Alivio. Vira o mal, vira o bem resgatar as sombras e leva-las para a lua. Não seria tão descuidada.
Não seria um… O que foi que vira? Não me lembro. Um sonho… Um fim…

2 comentários:

Nadine Mendes disse...

Gostei :)
Continua a escrever que eu gosto de ler os teus textos!
:)

Unknown disse...

Obrigada Nadine. :)
É muito bom saber que tenho apoio.