Virá um tempo em que o mar azul será substituído por um mar vermelho
ardente e o céu será sempre negro. Virá o momento em que homens lutarão por um
pedacinho de alegria putrefeita, que ficou esquecida no fundo da gaveta dos
armários dos grandes senhores. Virá o Fim pintado com cores monótonas; um Fim
onde as perdas materiais serão mais problemáticas que quaisquer outras. No
final, quando as estrelas deixarem de ser visíveis, os pássaros deixarem de
voar e os peixes saltarem todos da água, refugiando-se na terra instável,
talvez as coisas pareçam fazer sentido. Não teremos nós criticado a Terra
apesar de esta nos ter fornecido alimento e os recursos para podermos
sobreviver?
Ignoramos, maltratamos e sacrificamos o bem de outros (fossem um ser
humano ou uma montanha) em prole do nosso egoísmo, da nossa extrema necessidade
fútil de materiais. Desejamos mais e mais sem nunca saber quando parar. Ou
talvez soubéssemos, apenas poderíamos não desejar terminar a acumulação de
objetos supérfluos. Louvados sejam aqueles que se mantiveram quietos e
contentes com o que tinham, desejam apenas o básico, mas mesmo esses a dada
altura juntaram-se aos seguidores da Bruxa do Nada.
Escapar ou não escapar já não é uma questão que nos diz respeito.
Perdemos o direito a escapar ou não do Fim. Agora estamos nas mãos de uma força
maior. Essa força maior, a que chamamos Ser Divino, irá cobrir a terra de
chamas antes de sequer nos permitir de expormos as nossas razões. O que não é
de admirar. Quem é que mandou o ser humano ser arrogante? Quem nos deu
autorização para maltratar tudo o que passava à nossa frente? Quem nos disse
que podíamos matar aquilo que permaneceu durante anos quieto no meio dos seus
parentes e nunca nos tentou atacar? Perder, viver na tortura e morrer. O que
será melhor? O que é que realmente merecem aqueles que seguem pelo caminho
pouco iluminado de areia e pedras?
Sentados nos seus tronos de ouro e seda, estão os sete reis dos sete
reinos das sete cores. O Ser Divino anunciou a sentença. Cabe aos reis destruir
o oitavo reino e a sua líder. Se é impossível ou não, só no futuro se saberá.
Mas só eles podem lutar, só eles tem a liberdade e coragem para o fazer. E nós,
que condenamos o mundo à sua destruição ao seguir a Rainha do Nada, temos os
melhores lugares para observar a batalha. Ainda que a barreira entre a batalha
e nós seja muito fina, continua a ser suficientemente forte para suportar todas
as nossas tentativas de nos libertarmos das corrente, atravessar a parede e
decidir o nosso futuro por nós próprios.
Contudo, a liberdade total não estava ao nosso alcance. Perdemos esse
direito, essa capacidade de voar e escolher o que queremos e achamos que
merecemos na nossa vida. Voamos demasiado perto do sol e agora estamos em queda
livre e assente em terra firme não há ninguém para nos amparar a queda. Estávamos
destinados a autodestruirmo-nos, mais cedo ou mais tarde iria acontecer, se continuássemos
a agir da mesma forma. Parece que o momento chegou. As flamas do submundo
chegarão ao céu e nada escapará. Ainda que se os sete reinos conseguirem
retirar as sete pedras das mãos da rainha do oitavo reino e nós reflitamos,
provemos que estamos a mudar e que tentaremos repor a ordem do mundo então,
talvez, consigamos sobreviver.
Até agora as coisas estão a decorrer a um ritmo acelerado. Parece que
temos de esperar para ver como corre. Fim dos Tempos ou não. Já decorrer o
segundo julgamento, mas nós, seres humanos desatentos, só iremos perceber qual
é a segunda sentença quando ela começar a ser implementada. Os nossos olhos não
querem ver aquilo que está a acontecer. Até lá continuamos a seguir a Rainha do
oitavo reino, continuamos a dar ouvidos aquela que é a Bruxa do Nada.
Continuamos perdidos na nossa própria casa, na nossa própria cidade, no nosso próprio
país. Perdido neste mundo…