Sinto lágrimas acumulando-se nos meus
olhos e fecho-os ao senti-las escorrerem pelo meu rosto. Olho para o teto
branco do meu quarto e não sei o que mais fazer se não puxar os cobertores para
cima e afundar-me no abismo da escuridão. O meu peito está pesado, as vozes são
facas e as palavras as facadas que me matam um pouco mais. Nunca tentei
perder-me, foi um acidente. Se as coisas fosse preto e branco tal como dizem
nas discussões eu não me sentiria tão perdida e inútil. Queria levantar-me mas
não consegui. Cada passo que dava, cada dia que vivia, por mais que fizesse,
era inútil.
Dou o meu coração à escuridão que me
quer matar. Mentiras atrás de mentiras. Grito interiormente quando o verdadeiro
se prende na minha garganta. Engulo o nó que se forma. Não como e deixo o meu
corpo recolher-se e gastar toda a energia. Não sinto a fome mas sinto a mente
fugindo das amarras que a prendem ao corpo físico. Nunca me senti tão perdida
no mundo e os anos passam. Uma última vez… Pedia por uma última vez para não
olharem para mim daquela forma. Pedia para acreditarem, para me ajudarem a
acreditar.
Choro… Choro pelo mundo, por mim e pelo
futuro que não virá. Nunca tentei ser aquilo que não sou. Nunca tentei magoar
os que me amam. Só queria um último abraço. Uma corrente que não me permitisse
voar para longe da terra. Cada dia a passar, mais escuro o quarto fica, pois
mais atrativa a escuridão me parece. Deito-me e não me consigo levantar. Todos
os dias uma luta. Choro quando ninguém vê, nunca grito para não pensar na
loucura. Minto… Minto a mim própria, pois a loucura continua a existir no meu
interior, consumindo a minha alma. E caiu no abismo.