Escuridão… Tremenda noite sem estrelas.
Porque haveria ele de passar as ruas pouco iluminadas sabendo do perigo que
corria? Só ele sabia. Só ele, aquele jovem, poderia responder a questões tão
complexas como esta com uma resposta tão simples quanto o rio a correr.
Certamente, só ele poderia louvar sobre um momento perdido no tempo e espaço.
Num passado fixo, num futuro oscilante, somente ele percorreria a calçada
deserta com um caderno nas mãos e uma pena debaixo do chapéu. Carregando o seu
mundo nos ombros, ele dá passos um tanto firmes sobre um piso irregular.
Não havia vento, porém, a noite era fria
sem tais corrente de ar passando pelos corpos dos corajosos que se encontravam
à porta de um café no virar da esquina. E para o jovem… Com o seu caderno de capa
preta, folhas escritas e notas feitas nas páginas bege, ele caminha pela
calçada. O sol que desaparecera em pó num horizonte nunca alcançado. Só o rapaz
sabia o porque do tremer na sua mão dominante, o porque dos momentos de ouro
que atingiam-no com a ansia de um novo dia, o porque do sussurro numa escuridão
perdida. Só ele… Mais ninguém.
A rendição… A imposição no solo firme
debaixo dos seus pés. Nada o pararia de dar um novo passo. Ele render-se-ia ao
sonho, ao batalhar doloroso contra um algo a que nada se poderia fazer. A
vingança de nada serviria, e o choro acumulado não seria bom para o coração
sentimental. O fogo a arder na sua alma crescia com o impor dos pensamentos
sobre um acreditar. O caderno continua escrito, a pena continua escondida no
chapéu escuro e a longa capa faz o seu corpo perder-se numa escuridão vinda do
norte.
Um novo dia viria… As luzes brilhantes
ocultam a pequena sombra da dúvida subtil. A chuva viria durante um céu escuro
estrelado. Fadas dançariam pelos campos floridos do grande parque. O olhar
sábio do jovem rolava pela beleza do dia e da noite, pela tristeza da mulher
sentada no banco do jardim, e pelas estrelas invisíveis daquela noite. As gotas
que nunca mais chegaram lavariam as lágrimas que sempre caiem quando a saudade
aperta.
Escuridão… Tremenda noite sem estrelas
num céu negro. E ele passava pela rua deserta, nunca parando, nunca deixando de
sonhar e sentir umas mãos nos seus ombros guiando-o pelos caminhos difíceis e
fáceis da vida, ajudando-o a libertar-se do peso sobre as suas costas através
de um caderno e de uma pena. Ele era o que era sem nunca esquecer do amor no
seu peito e a inspiração na sua mente. O olhar forte, e o sonhar constante e
imperfeito numa vida injusta e nem sempre correta. As asas que ele possuía eram
invisíveis, e as lágrimas, que não caiam naquela noite, eram salgadas e
sofredoras. E a calçada continuava, seguindo ele atrás de um desejo a realizar.
A rendição de um dia de chuva e de um sol a quebrar a escuridão. Uma reza e um
poema…